‘Decisão do BC deixa no ar possibilidade de influência política’, diz Senna

Na avaliação do chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, a melhor opção para o Banco Central era, de fato, manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. O problema, afirma ele, foi a sinalização de que o BC retomaria um ciclo de alta dos juros.

Na opinião de Senna, ex-diretor do Banco Central, a confusão envolvendo a nota oficial emitida pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, sobre as perspectivas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia brasileira e a consequente mudança de rota na política econômica provocaram um “dano à credibilidade” da instituição. “A decisão deixa no ar a possibilidade de interferência política”, afirmou Senna em entrevista.

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“A economia como um todo sai perdendo, não somente pelo dano à credibilidade da autoridade monetária, mas também pela alta dos juros mais longa e das inflações implícitas que se seguiram à nota do Banco Central da última terça-feira”, avaliou.

“A sinalização errática seguramente provocará uma desancoragem das expectativas”, disse o economista. “De qualquer modo, chegamos a um ponto em que, sem ajustes fiscais profundos, as expectativas e a própria inflação não cederão. E o melhor que o BC pode fazer daqui em diante é evitar o agravamento das contas públicas e ajudar o público a compreender o quadro prevalecente no Brasil”, afirmou.

Questionado sobre como o BC poderia lidar com o quadro de economia fraca e com inflação acima do teto da meta, Senna ressaltou que o quadro recessivo “já é por demais severo”. “Num regime de metas de inflação, há uma hierarquia de objetivos. Combater a inflação é a prioridade. Mas não a qualquer custo. Quando a atividade econômica está muito fraca, e tende a se enfraquecer ainda mais, isso tem de ser levado em conta”.

“As expectativas de inflação têm subido continuadamente desde o início do segundo semestre de 2015. Estão desancoradas. Esse é um fator que se contrapõe aos efeitos baixistas da recessão”, finalizou o economista.

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