Governo reabre discussões para alojar oposição na CPI

Depois de propagar a informação que não compartilharia o comando da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista dos Cartões Corporativos com a oposição, o governo reabriu hoje as negociações para acomodar um senador oposicionista na presidência das investigações. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que antes era voz solitária em defesa de um entendimento, ganhou o apoio da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Com a ajuda do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, eles conseguiram convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a partilha do comando da CPI é a melhor estratégia para facilitar a vida da administração federal na Casa.

O Poder Executivo decidiu ceder diante da criação iminente de uma CPI exclusiva de senadores para apurar os gastos corporativos do Palácio do Planalto, o que tumultuaria o ambiente político e agravaria a crise no Senado. Numa CPI exclusiva de senadores, a maioria governista é mais instável. Como os partidos da base aliada haviam concordado com Jucá, faltava apenas convencer o PT. Para tanto, Lula precisava entrar em ação. Foi o que ocorreu: no início da noite, ele convocou ao Planalto o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), um dos mais aguerridos contra o acordo, em defesa do espaço de poder do PT.

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“Minha posição continua a mesma. Sou favorável que o regimento seja seguido e ele prevê que o comando da CPI fique com os maiores partidos das duas Casas”, afirmou Fontana, momentos antes de seguir para a reunião. Outro petista com trânsito no gabinete presidencial observou hoje que o melhor cenário para o Executivo é evitar o tumulto de duas comissões. Por isso mesmo, o parlamentar avalia que a “teimosia” do líder do governo na Câmara em não partilhar a direção da CPI serve aos interesses do PT, e não da Presidência da República.

Diante da retomada da negociação, o presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), admite não ler o requerimento da CPI do Senado na sessão de amanhã. Uma vez lido o pedido de investigação do líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio Neto (AM), a segunda CPI dos cartões ficará, automaticamente, criada. Garibaldi também tem interesse em evitar dois inquéritos para não tumultuar a agenda do Senado. “Só haverá a outra CPI, a do Senado, se não houver entendimento. Se há possibilidade de um acordo, vou esperar a fumaça branca”, disse.

Comando

Na realidade, a Presidência só se dispõe a negociar o comando da CPI mista, e não a relatoria que está com o PT da Câmara. Quem indicou o presidente foi o PMDB do Senado, escalando o senador Neuto de Conto (SC). Segundo um dirigente nacional da legenda, no entanto, Conto foi posto ali por ser um nome que pode ser retirado a qualquer momento, diante de uma negociação.

Um dirigente petista afirma que o PT resiste porque sabe que o PMDB apresentará a “fatura” à União por ter cedido à oposição – a sigla negociaria a retirada em nome da governabilidade, uma paz parlamentar que acarretaria custos ao governo. Tanto que o PMDB decidiu que só abriria mão do posto a pedido de Lula, num sinal de negociação direta da fatura política. O dirigente petista argumenta que o preço será alto e, ao fim, é o PT quem terá de pagar a conta, abrindo mão do espaço de poder na administração federal e no Legislativo ao PMDB.

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