Ações motivadas por rixas podem significar falta de planejamento

Até mesmo o filósofo Platão explica a atitude de muito políticos de tentar apagar marcas de outros

Não é de hoje que a troca de comando, até mesmo no Palácio do Planalto, traz mudanças em nomes de projetos, cores de equipamentos públicos e outras medidas para tentar apagar a marca do governo anterior. A prática é muito comum quando a mudança envolve troca de partido ou grupo político.

Especialista em Ciência Política e Comportamento Político, Maria do Socorro Souza Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que o tema é pouco explorado pela academia e que um dos fatores responsáveis pela prática é o tempo de governo de cada administração.

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“Se pensarmos que o governante poderá ficar apenas quatro anos no poder, caso não se reeleja, é provável que alguns projetos planejados em sua gestão só sejam concluídos quando seu sucessor assumir. Isso pode explicar as trocas de nomes de projetos e até de equipamentos públicos”, explica. “Isso faz parte do jogo eleitoral, sempre vai existir”, comenta.

Para a cientista, o tipo de rixa pode significar falta de plano de governo. “Essa ‘perfumaria’ é comum nos casos da falta de projetos importantes ou orçamento para obras ou projetos importantes”, diz. A professora acredita que a visão sobre a responsabilidade com a verba pública pode ser prejudicada no momento em que a população se der conta do que está sendo feito com o dinheiro público. “Isso pode refletir nas unas”, completa.

Por outro lado, a continuidade ou a ampliação de projetos e programas de antecessores, independentemente da cor partidária, pode render credibilidade. “O Bolsa Família é um exemplo. Muitos defendem que o programa começou na gestão de Fernando Henrique Cardoso. O fato é que Lula, ao se tornar presidente, unificou ações e ampliou o repasse e o número de famílias beneficiadas. De qualquer forma, deu credibilidade a ele (Lula)”, destaca.

Prática já era conhecida por Platão

O especialista em Marketing Político, Marco Iten, conta que até mesmo o filósofo Platão explica a atitude de muito políticos de tentar apagar marcas de outros. “Isso é histórico. O homem público sente a necessidade de se tornar indispensável”, conta. 

Roberto Gondo, professsor da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e especialista em Marketing Político, diz que historicamente e internacionalmente há fatos que demonstram a necessidade de deixar marcas pelos governantes. Gondo cita fatos egípcios, como as pirâmides, em que os faraós construíam imensos monumentos para deixar sua marca para os homens e para os deuses na eternidade, como Quéops. “No contexto histórico ocidental é possível citar o exemplo do rei francês Luis XIV, grande incentivador de obras monumentais que marcassem sua passagem pelo poder, como a construção do Palácio de Versalhes, marco na estrutura francesa”, lembra.

Marco Iten conta que na década de 1980, em São Bernardo, o até então prefeito Aron Galante, no comando do Paço entre 1983 e 1988 pelo MDB, pintou diversos prédios e equipamentos públicos de verde. “Quando Maurício Soares, na época integrante do PT se tornou prefeito, trocou as cores para vermelho”, afirma. 

Marco Iten destaca o caso de Álvaro Prizão Januário, ex-prefeito de Pompeia, no interior de São Paulo, conhecido pelo apelido ‘Vinho’. O candidato pintou tudo o que podia na cor vinho, mas isso não o ajudou nas urnas. “Quando há exagero, o cidadão se questiona se aquilo é, de fato, necessário. Alguns casos podem, inclusive, ser encarados com improbidade administrativa”, adverte. 

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1 - Rivalidade política na região continua após voto

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