Em meio à polêmica sobre o manual de conduta para o funcionalismo da Câmara de São Bernardo, o presidente da Casa, Pery Cartola (PSDB), vem planejando a criação de uma auditoria nas contas e nos contratos do Legislativo são-bernardense. Em entrevista exclusiva ao RD, o tucano demonstrou preocupação com os gastos e a quantidade de contratos assinados nos últimos anos.
A intenção do vereador é analisar tudo o que foi gasto nos últimos seis anos na Casa, ou seja, avaliando o que foi feito nas gestões de Hiroyuki Minami (PSDB, 2011-2012), Tião Mateus (PT, 2013-2014) e José Luis Ferrarezi (PT, 2015-2016). A quantidade de contratos assinados neste período preocupa Cartola.
“Estamos vendo contrato por contrato. Ultimamente tenho visto a necessidade de abrir um processo licitatório para saber sobre o que estamos fazendo, o que nós estamos assinando. Os processos em andamento. A intenção, se o custo não impactar muito, eu quero abrir uma auditoria que possa expor as falhas do organismo para que possamos saná-las e não cair em uma armadilha”, explicou o chefe do Legislativo.
Um dos contratos mais polêmicos da Casa é com a construtora Cronacon, responsável pela obra do novo prédio da Câmara, no valor de R$ 34,1 milhões, construída durante a gestão de Minami, inaugurada em dezembro de 2012, porém com sessões apenas a partir do mês de março de 2013. O vereador Rafael Demarchi (então no PSD, agora no PRB) e o agora ex-legislador Fabio Landi (então no PSD, atualmente filiado ao PSB), chegaram a emplacar um projeto de auditoria externa na obra, porém a ideia acabou engavetada.
Indagado sobre a possibilidade de uma auditoria neste contrato, Cartola salientou que até pode fazer isto, porém está entrando em acordo com a Cronacon, criando um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), onde a empresa ficará responsável por uma série de manutenções no prédio. Pery apenas aguarda o laudo técnico de engenheiros da Prefeitura para assinar o documento.
Em dezembro de 2016, o então presidente da Casa, Ferrarezi, chegou a assinar a declaração que deixou a Cronacon como inidônea, o que a impede de participar de licitações. A construtora também é investigada na obra do Museu do Trabalho e do Trabalhador, alvo da operação Hefesta, da Polícia Federal.
TV
A série de cortes que estão sendo realizadas na Câmara vem causando a descoberta de algumas ideias antigas que não são levadas à frente. Uma delas é a criação da TV Câmara, uma questão que vem sendo alvo de conversas internas há pelo menos oito anos. No último documento assinado, em 2016, a proposta foi orçada em R$ 3,5 milhões, sendo que um dos orçamentos, em 2011, era de R$ 11 milhões. Também pensando na ideia, Pery Cartola não pretende gastar mais de R$ 50 mil para as transmissões das sessões da Casa.
“Desviaram o foco para não ter mudança”, disse Pery sobre manual
“Cansado de responder sobre isso”. Esta é a expressão usada pelo presidente da Câmara de São Bernardo, Pery Cartola (PSDB), para evitar novas perguntas sobre o polêmico manual de conduta que foi revelado na semana passada e que foi alvo de severas críticas. O tucano considera que o fato foi colocado para “desviar o foco” para que seu plano de mudanças do Legislativo não avance.
Sem falar diretamente sobre o manual, Cartola colocou o caso em meio as suas respostas sobre os cortes de gastos e também a melhoria de atendimento para os munícipes. “Vou conseguir fazer essas mudanças (cortes de gastos e contratos). Isso incomoda algumas pessoas. As pessoas tentam, no meio do caminho, com alguns fatos desviar a intenção daqueles que tem voas intenções do dever, do objetivo, mas não vou desviar. Estou focado em limpar a imagem (da Câmara) perante a população”, afirmou.
Em outro ponto da entrevista, o tucano voltou a falar sobre o assunto. “Mudaram muito o foco. Onde era para falar de uma conduta de excelência no atendimento, normas, regras, e padrões, desviaram o foco justamente para não mudar o organismo, para que continue assim. Para alguém, isso (a polêmica) é benéfico. Quanto mais zona, bagunça, melhor. Então queremos mudar tudo isso na Casa”, concluiu.
O manual de conduta foi colocado como polêmica por ter uma série de normas que vão desde o tipo de roupa que os funcionários devem usar (inclusive citando algumas combinações como as cores da calça, meias e sapatos) até o comportamento ao cumprimentar algumas pessoas como um simples aperto de mão “com a mão firme e com três sacudidas”.
Na última quarta-feira (18), membros do Sindicato do Funcionalismo Público de São Bernardo (Sindiserv/SBC) se reuniu com Cartola. Entre as pautas estavam o polêmico manual. Segundo a nota publicada no site da entidade sindical, Pery Cartola não levará adiante a ideia.