A Culpa é da Produção é o título do primeiro livro de Sonia Varuzza, que será lançado nesta quinta-feira (8), às 18h, na livraria Alpharrabio, em Santo André. São 36 crônicas bem-humoradas sobre o dia a dia dos profissionais da área. Nada rotineiro, como diz Sonia, que aproveitou o jargão usado no meio pelos artistas e titulou a obra. “Saiu alguma coisa errada? A culpa é da produção”, brinca a autora. A obra tem 68 páginas e custa R$ 30.
Sonia é produtora cultural com 25 anos de experiência na área teatral. Foi responsável pela preparação de apresentações de espetáculos como Vida Privada, com Antônio Fagundes, Caixa 2, com Juca de Oliveira e Fúlvio Stefanini, e Dona Doida, com Fernanda Montenegro.
Administradora de empresas e escritora por vocação, Sonia Varuzza começou por separar cerca de 300 crônicas de sua vida profissional, como as que melhor enfatizam o lado leve e descontraído da carreira. “Muitos artistas acabam virando nossos amigos e brincamos com o que acontece no dia a dia, as diversas situações. Então reuni essas histórias e comecei a publicar no Facebook. O pessoal curtiu e compartilhou, isso me motivou a escrever o livro”, conta.
Confira trechos da entrevista:
RD: Em seu livro você usa codinome para identificar os personagens?
Sonia: O único que utilizo nome é o Almir Sater, que tenho muitas histórias engraçadas. Os outros identifico como atriz, ator. O mais interessante são as histórias das divas, as de verdade, que chegam antes, enrolam o cabelo, se maquiam, não dão trabalho e ainda dizem que estão nervosas com a apresentação. É interessante, porque às vezes vemos iniciantes dizendo que está tudo bem, e as fantásticas dizendo que ficam nervosas sempre porque cada apresentação é uma história.
RD: E a produção escapa de ser culpada pelos artistas?
Sonia: Sempre nos culpam, até os legais. As brigas que tive com Almir Sater, por exemplo, foram sempre por conta do som, se não estiver perfeito, a culpa é minha e ele tem razão quando diz “eu que contrato”. Ele como artista tem direito de reclamar e você entende quando a reclamação é pertinente ou não. É uma relação de respeito. E ainda tem os fãs também que às vezes são malucos e correm atrás do artista, tentam subornar. A culpa é da produção (rs).
RD: E o ECAD, qual a função dele e o que ele tem a ver com a história?
Sonia: O ECAD [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição] foi criado para proteger o artista. Ele recolhe o percentual que devia ser revertido para o próprio artista, caso do Almir Sater por exemplo, já que as músicas são dele. Mas você precisa pagar mesmo assim para que ele possa cantar as próprias músicas e, por conta disso, muitas pessoas deixam de promover shows. Eles cobram 10% do valor bruto do espetáculo, então se você arrecada R$ 100 mil, R$ 10 é do ECAD, é algo que nossos políticos, os poderosos precisam rever.
RD: E falando do seu livro, são quantas crônicas?
Sonia: São 36. Eu pedi que a editora escolhesse porque eu não era capaz. Entreguei umas 100 e aí escolheram.
RD: Para realização dos espetáculos precisa do poder público, dos espaços etc. Algumas cidades do ABC trocarão os prefeitos, teremos uma verdadeira renovação. Qual a sua expectativa em relação a isso?
Sonia: Particularmente gostei das mudanças, acho que são bem-vindas. Embora os profissionais da cultura ainda estejam no impasse enquanto não souber qual será a nova equipe, esperamos que tenhamos bons secretários de cultura e que estes sejam bem assessorados. Quero poder falar de cultura com os novos gestores, que as pessoas possam ir ao teatro, saibam quem são os artistas e que possamos falar sobre isso. Um grande sonho é poder passar a experiência, criar uma cooperativa de produtores da região, para criar emprego e melhorar a questão cultural na região.
RD: E o poder público, os políticos, gostam de entrar de graça?
Sonia: Tento explicar que o ingresso é o salário do artista, técnico, produtor, bilheteiro e iluminador. Então o que ele tem de entender é que é um pedaço do salário que ele está retirando. A partir do momento que eles respeitarem o trabalho do profissional de cultura, como um trabalho de fato e não como diversão, ele vai acabar entendendo que você não pode pedir este produto, pois é a única coisa que temos a vender.