Ações de conscientização da importância do combate ao câncer são mais intensas neste mês, através da campanha Outubro Rosa, que lembra a luta das mulheres contra a doença. Para falar sobre as formas de prevenção e tratamento, o RDtv entrevistou a oncologista do Hospital Brasil, Priscila Vilella.
Confira a entrevista na íntegra:
RD: O câncer de mama ainda preocupa muito no Brasil?
Priscila: Sim, o câncer de mama é o câncer que mais preocupa as mulheres, é o mais incidente. O foco é sempre esclarecer a mulher que ela precisa procurar atendimento, ser examinada, precisa fazer a mamografia, ser bem orientada. Qual a frase mais importante? Quando o diagnóstico é precoce ela tem cura. Quando o diagnóstico é tardio, ela esconde, não vai ao médico, temos uma situação mais grave, mais difícil de ser tratada, e o nosso foco é o diagnóstico precoce. Temos abrangência de câncer diferente conforme faixa etária. Então, temos a incidência em mulheres jovens, a faixa etária de maior risco teoricamente é a faixa etária dos 40 a 60 anos.
RD: Quando você fala em jovens estamos falando de que idade?
Priscila: 25, 30 anos. A gente tem pacientes nessa faixa etária com câncer de mama. Com o aumento da sobrevida, da longevidade, também temos a idosa com câncer de mama, faixa de 80 anos. Então são três capítulos diferentes de doença. Temos a doença na paciente mais jovem que o tumor vem de maneira mais ofensiva, e temos na idosa que normalmente o tumor geralmente é mais brando, mais tranquilo. E até por fatores de doença de base, o tratamento tem que ser individualizado. Uma tem condição de operar, a outra tem a condição de quimioterapia, mas a gente tem basicamente essas três faixas etárias de diagnóstico.
RD: Como se faz o diagnóstico precoce? Autoexame, visita rotineira ao médico, como faz?
Priscila: Tudo isso. Na verdade, o autoexame. Me perguntam “quando começa a fazer o autoexame?”. A partir do momento que se tem tecido mamário. Então a adolescente em casa tem que ser orientada pela mãe, pelo ginecologista e até pelo pediatra a conhecer a própria mama. A partir daquilo, se ela está habituada a se tocar, a se palpar ou até a se olhar, ela consegue ter alguma normalidade mesmo que não seja câncer. Mas algum nódulo benígno, coisas que são comuns nessa faixa etária. Então é bom ter essa atenção, adquirir este hábito. Ela vai ao pediatra, ele teoricamente tem que orientar a menina que aquilo que está crescendo é algo normal, ela tem que tocar, ela tem que sentir, e qualquer sinal tem que ser avaliado. Tem consulta que a gente até considera bobinha, mas não transmite isso à paciente porque foi importante ela perceber a normalidade. A gente dá graças a Deus, e na verdade a gente tem a questão do exame feito pelo médico. Ginecologista, mastologista e os exames que tèm que ser investigados. Mamografia que tem que ser pedida, em pacientes mais jovens a ultrassonografia de mamas, tudo isso conforme a faixa etária, conforme queixas.
RD: A mamografia se faz a partir de que idade?
Priscila: Pela Sociedade Brasileira de Mastologia. A mamografia anual deve ser feita a partir de 40 anos. Existem algumas vertentes dizendo que pode ser a partir dos 50 anos, trabalhos europeus, mas aí estamos levando em conta outra população, outras situações. Nossa realidade, Sociedade Brasileira de Mastologia, é de 40 anos. O que pode ser feito antes disso? Entre 35 e 40 anos podemos pedir mamografia de base. Antes disso, as outras queixas, devem ser investigadas com ultrassonografias de mama. Porque o padrão da mama limita a mamografia. Consideramos que a mulher jovem tem mama densa; muita glândula. E a hora que você radiografa, se tem um nódulo, tem uma lesão escondida ali, teoricamente, a mamografia não permite que seja visto. Então pra pacientes mais jovens, 20 anos, 25 anos, em alguns casos se faz mamografia sim. Mas, na maioria das vezes, veio uma queixa de dor mamaria, nódulo palpável, o primeiro exame a ser pedido será a ultrassonografia de mamas.
RD: Com a ultrassonografia e a mamografia no momento de exame já dá para considerar que exista nódulo maligno?
Priscila: Normalmente a gente considera que as lesões vêm com aspecto suspeito. Não se fecha diagnóstico por imagem. Aí a gente faz biópsia. Existem vários tipos, mas principalmente os nódulos são biópsia por agulha, guiado por ultrassom ou guiado pelo aparelho da mamografia, que a gente chama de estereotaxia e através da agulha é retirado o material que vai para biópsia para ser investigado. Em momento nenhum a gente fala para a paciente que ela tem câncer de mama com um achado mamográfico ou ultrassonográfico. Toda regra tem exceção, tem vez que a gente acha e é surpreendido na biópsia.
RD: Feito o diagnóstico de forma precoce, é possível curar a doença?
Priscila: Com certeza. Hoje a gente considera que o câncer de mama é individual, cada mulher tem o seu, não da para comparar. Então ele tem muitas características a ser avaliadas para conduzir o tratamento. Às vezes por um achado mamográfico fazemos um diagnóstico de uma coisa chamada in situ como se ele estivesse envelopadinho. Esse tipo de tumor, por exemplo, via de regra não precisamos fazer quimioterapia. Então se faço diagnóstico numa situação dessas eu poupo a paciente de quimioterapia. Agora se passa dois anos e vira invasivo, ela vai ter que fazer o tratamento.
RD: Se não fez tratamento, se demorou um tempo, a situação pode ser muito pior?
Priscila: Exatamente. Por isso a gente bate em cima, pega no pé, controla exame. Porque nosso objetivo é diagnóstico precoce. A gente sabe hoje que assim vamos falar de prevenção. O que temos para fazer de prevenção de forma objetiva, populacional, é o diagnóstico precoce, que traz benefícios para os pacientes. O que temos hoje de prevenção, inclusive, é a campanha da Sociedade Brasileira de Mastologia, é a dieta e exercícios. Sabemos que o fator de obesidade é um fator de risco muito importante para o câncer de mama. As células da gordura são capazes de produzir hormônios. E a gente sabe que a maioria dos cânceres de mama são hormônios dependentes.
RD: Fator genético é importante?
Priscila: Fator genético é importante, mas o que acontece é assim, os casos genéticos não são a maioria. Hoje a medicina anda muito na questão da pesquisa genética, inclusive temos exames de pesquisas genéticas voltadas para o câncer de mama. Algumas pacientes bem triadas são selecionadas a fazer teste genético. Mas a maioria dos casos são pontuais, não é a maior fatia. Por isso que a gente também prioriza a prevenção como qualidade de vida. Se alimentar de maneira adequada, fazer atividade física, por que não temos causa definida. Então nos apegamos na prevenção que podemos fazer como mulher e a procura de diagnóstico precoce. Porque passar por consulta, fazer mamografia, não é uma prevenção, é uma tentativa de diagnóstico precoce.
RD: A visita ao ginecologista, mastologista tem que ser feita de quanto em quanto tempo?
Priscila: Ao ginecologista uma vez ao ano, caso ele libere uma vez ao ano. Tem pacientes que orientamos de seis em seis meses. Ir ao mastologista pode ser uma opção da mulher “olha, tenho uma dúvida”, ou a maioria é encaminhada por outros especialistas ao mastologista. Então o ginecologista rastreia uma alteração e encaminha ao mastologista. É um profissional monitorando, mas qualquer mulher pode marcar consulta com o mastologista. Diretamente, não tem problema nenhum.
RD: Quais as iniciativas do Hospital Brasil?
Priscila: Dentro do hospital a gente praticamente tem todos os exames necessários para diagnóstico, para rastreamento e estamos à disposição de todo mundo para dar atendimento. As pessoas tem que se autoexaminar, apesar de muitas acharem que não sabem, elas sabem. Procurar o médico, fazer mamografia, mas às vezes 1 ano, seis meses, três meses fazem diferença na vida das pessoas.