Há alguns meses, montadoras automobilísticas e indústrias de autopeças da região anunciaram corte de mão de obra excedente. Para manter empregos, sindicatos, prefeituras, associações e trabalhadores se uniram em busca de negociações com as empresas, a fim de evitar milhares de metalúrgicos desempregados.
Em alguns casos, as intervenções de entidades não conseguiram firmar acordos. É o caso empresa Keiper, de Mauá, que tenta voltar a fabricar assentos automobilísticos para a Volkswagem, sem sucesso. Para que a parceria das duas empresas fosse retomada, ocorreram diversas reuniões entre representantes das companhias e do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.
Porém, a montadora alemã conquistou nesta quarta-feira (24) liminar na Justiça, que dá o direito de recolher seu ferramental que estava emprestado à Keiper, uma das empresas do grupo Prevent. O fato desanimou os mais de 400 funcionários que se revessavam em vigília em frente à fábrica para evitar que a Volkswagem retirasse seus equipamentos. A fabricante de veículos rompeu o contrato de fornecimento de várias peças com a empresa, após atrasos nas entregas.
“Infelizmente a Volks conseguiu uma nova liminar. Amanhã (26) ou no mais tardar segunda-feira (29) o material será retirado. Isso deixou os funcionários desanimados. O sindicato tentou negociar, mas a situação é complicada”, diz o diretor da entidade, Adilson Torres, o Sapão. A esperança dos metalúrgicos era que o maquinário ficasse como garantia de pagamento de ao menos uma parte dos direitos trabalhistas dos funcionários, já que a Keiper alegou problemas financeiros.
De acordo com o presidente do sindicato, Cícero Firmino da Silva, o Martinha, Santo André e Mauá registravam 25 mil trabalhadores do setor, mas com as demissões dos últimos anos, o número foi para no máximo 15 mil, sendo que pode diminuir mais ainda.
Martinha confessa que está cada vez mais difícil garantir os direitos trabalhistas dos metalúrgicos. “Na década de 1980, as empresas demitiam e ainda pagavam indenização, agora as empresas não estão pagando, estão indo na Justiça para parcelar a indenização, um carnê de 10, 15 parcelas para pagar a indenização dos trabalhadores”, diz.
Montadoras
Neste ano, em São Bernardo, a Volkswagen pretendia demitir 3,6 mil trabalhadores, a Ford 1.110 e a Mercedes-Benz 2.670. Na GM, em São Caetano, mil trabalhadores tiveram prorrogada, por mais alguns meses, a suspensão temporária de funcionários (layoff), que deveria vencer em abril. Juntas, as quatro fábricas declararam corte de cerca de 8 mil postos de trabalho.
Após assembleias e acordos com as montadoras, temporariamente os cortes foram gerenciados e a medida mais utilizada é o Programa de Demissão Voluntária (PDV). As empresas também optaram pelo layoff e a adesão ao programa de Proteção ao Emprego (PPE).
A ociosidade na indústria automotiva cresce em razão da queda nas vendas de veículos em todo o País. Com os pátios cheios, manter funcionários tem se mostrado um desafio às empresas.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo, Hitoshi Hyodo, acredita que esse quadro deve ser discutida entre várias entidades, porém, muitas decisões não estão relacionadas à região. “As grandes multinacionais, que estão instaladas em nossa cidade, tomam certas decisões que não são locais. A gente precisa filtrar um pouco a questão de politizar”, explica.
Para o vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo (Acisbec), Valter Moura Júnior, o crescimento da indústria deve ser buscado, mas a região precisa investir em outros segmentos para ter alternativas de empregos para a população. “Eu costumo dizer que quando o Brasil entra em crise, quem sente mais é o ABC, principalmente São Bernardo. Pelo fato das montadoras, pelo fato de crescimento econômico realmente político”, diz.
Já o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, Giovanni Rocco, acredita que a situação com relação às demissões pode melhorar mediante a recuperação da economia brasileira. “Nossa região historicamente entra primeiro nas crises e sai primeiro também. Essa crise está baseada em uma questão política, um viés político mais intenso. Mas alguns sinais, a nossa região já vem sentindo”, afirma.
Negociação
O último acordo para evitar demissão em massa foi realizado nesta quarta-feira (24). Em assembleia, os trabalhadores na Mercedes-Benz aprovaram a proposta negociada entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a companhia, que brecou a demissão de mais de dois mil trabalhadores. A empresa abriu PDV com meta de adesão de 1.400 operários. Após atingir o número, a montadora propôs gerenciar o restante excedente, através de layoff, com estabilidade até 2017.