As montadoras do ABC passam por um momento difícil e preveem mais demissões para os próximos meses. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Firmino da Silva, conhecido como Cícero Martinha, em entrevista ao RDtv, diz que Santo André e Mauá registravam 25 mil metalúrgicos, mas que, com as demissões dos últimos anos, o número foi para no máximo 15 mil, sendo que pode diminuir mais ainda.
“Foi uma perda muito grande, quase 40% aproximadamente do nível de empregos. A gente tem sempre uma rotatividade, muitas demissões, mas tem contratações. Agora você tem demissão e não tem contratação”, explica. Ainda segundo o presidente, as empresas de autopeças também estão sendo afetadas com as vendas fracas dos automóveis e estão evitando fazer novas contratações.
Martinha compara a crise atual das montadoras com a ocorrida na década de 1980. Para ele, antigamente os metalúrgicos tinham mais garantias trabalhistas que agora. “Na década de 80, as empresas demitiam e ainda pagavam indenização, agora as empresas não estão pagando, mas estão indo na Justiça para parcelar a indenização, um carnê de 10, 15 parcelas para pagar a indenização dos trabalhadores”.
De acordo com o presidente, muitas empresas não possuem bens que garantam que os direitos trabalhistas serão pagos. O galpão e maquinários são alugados, sendo essa situação preocupante para os metalúrgicos. É o caso dos operários da fábrica Keiper, em Mauá, que estão apreensivos com o rompimento do contrato da empresa, que fabrica assentos automotivos, com a Volkswagen.
A Keiper, que é do grupo bósnio Prevent, alega que não possui recursos para pagar os mais de 400 funcionários. A Volks, por sua vez, diz que rompeu contrato, pois a empresa de autopeças descumpriu diversos acordos, que prejudicaram a montadora alemã, que deixou de produzir 30 mil veículos em cerca de 140 dias.
“É uma briga de uma autopeça com uma montadora. As autopeças de modo geral sempre reclamaram que as montadoras pegam pesado, fazem eles se virarem com o preço, não reajusta preços, inclusive aumenta preço da matéria prima”, afirma o presidente.
Para Martinha, não compete ao sindicato dizer quem está certo ou errado, apenas garantir que os trabalhadores não sejam prejudicados mediante os problemas entre as duas companhias. “Então nós queremos o quê? Que a empresa resolva a situação e que as peças continuem sendo feitas em algum lugar. Que a gente dê preferência para contratar esses trabalhadores, os que não forem contratados que tenham um pacote indenizatório. Quem vai pagar não sei se é a Volkswagen ou se é a Keiper”, diz.
Martinha afirma que esperava que os problemas das montadoras e das empresas de autopeças melhorassem com as mudanças políticas realizadas, mas que isso não ocorreu. “Diziam-se muito que o problema era político, de governo, já passou certo tempo e a gente está esperando os investimentos, o retorno do crescimento. Mas até agora a gente continua na mesma”, diz.
Uma das saídas para abrir mais vagas e melhorar a economia das cidades do ABC, segundo Martinha, é o investimento em novas áreas, não só a automobilística. “Nós especificamente temos a preocupação com o setor automotivo, a região nossa tem muito a ver com o setor automotivo, tem um peso muito grande na região. Mas também queremos que cresça outros setores; indústria da construção civil, as indústrias importantes da construção de base […] E com essa parada aí você vê as empresas todas com problemas, tem empresas que querem fechar as portas, demitir trabalhadores e não tem dinheiro para pagar”, finaliza.