Ao comemorar 139 anos de fundação, neste dia 28 de julho, São Caetano enfrenta desafio de encontrar rumo seguro para o desenvolvimento econômico. É de reconhecimento geral entre executivos públicos e empresários que o município não dispõe de vantagens competitivas para atrair indústrias de transformação, por conta de fatores como o alto custo dos poucos terrenos disponíveis. Também se reconhece que o desenvolvimento imobiliário é insuficiente para gerar receitas em montante suficiente para dar conta da continuidade no padrão de serviços públicos, da mesma forma que soa desaconselhável continuar com praticamente a metade das receitas de ICMS concentrada em apenas três grandes empresas. O que fazer diante do quadro?
A administração municipal acredita ter encontrado a resposta por meio de um plano de desenvolvimento econômico de caráter estruturante e de longo prazo.
O chamado Plano de Desenvolvimento Econômico 2016-2025 (PMDE) estabelece série de ações visando nova matriz produtiva capaz de assegurar sustentabilidade no horizonte de uma década. O setor escolhido a ser trabalhado é o de alta tecnologia e inovação, representado por setores como tecnologia da informação e desenvolvimento de softwares.
“Queremos transformar São Caetano numa espécie de Vale do Silício”, destaca , Alessandro de Freitas Leone, secretário de Desenvolvimento Econômico e Relações do Trabalho, referindo-se à região da costa oeste norte-americana, berço de logomarcas como Google e Apple.
O PMDE foi elaborado pelo Executivo, com realização de audiências públicas, e aprovado pela Câmara em março. Dia 8 de julho foi oficialmente constituído o Comitê Gestor de Inovação e Tecnologia, durante encontro no Paço. Formado por empresários e representantes de entidades e associações ligadas ao empreendedorismo, o grupo de trabalho deverá se reunir periodicamente para – em parceria com o poder público – garantir avanços no projeto.
“Podemos colaborar sendo um dos agentes responsáveis. Em conjunto com as universidades, podemos coordenar as ações necessárias”, afirma Benício José de Oliveira Filho, presidente do Itescs (Instituto de Tecnologia de São Caetano), que participou do encontro ao lado de representantes de entidades e universidades como Instituto Mauá de Tecnologia, Universidade Federal do ABC, Faculdade de Tecnologia de São Caetano, Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC e Associação Comercial e Industrial de São Caetano.
O Itescs possui cerca de 40 empresas filiadas sediadas em São Caetano. São prestadoras de serviços diversos, incluindo TI, atraídas ao município pela política de redução de ISS levada a cabo nos últimos anos. A alíquota é de 2%.
É do próprio secretário Alessandro Leone as constatações relativas à concentração de receitas municipais em poucas empresas e sobre a insuficiência do setor imobiliário. “Casas Bahia, General Motors e Transpetro representam 46% do ICMS arrecadado. Por outro lado, os recursos gerados com IPTU não cobrem o aumento das despesas municipais com prestação de serviços em áreas como saúde, segurança e educação” – considera.
Reforçam o tom realista as justificativas que embasam o PMDE, como processo de desindustrialização, risco de redução da capacidade financeira da Prefeitura e tendência de envelhecimento da população.
Município aposta na área de tecnologia
A escolha de setores como tecnologia de informação e desenvolvimento de softwares está baseada em potencialidades e limitações locais. “Como a cidade não dispõe de grandes áreas, o segmento tecnológico se adequa com perfeição, pois atua em espaços compactos”, destaca Alessandro Leone, que cita qualidade de vida e presença de universidades como fatores de atratividade.
Para o conselheiro emérito do Ciesp de São Caetano, William Pesinato, a administração municipal acerta ao centrar o foco no setor de tecnologia, à distância da manufatura tradicional. “Cerca de 80% das empresas do setor industrial de São Caetano pertencem a moradores do próprio município que permanecem na cidade por terem construindo laços afetivos aqui. São Caetano não atrai novas indústrias pelo alto custo dos terrenos”, explica Pesinato, representante da terceira geração familiar à frente da Fami, especializada em produtos médico-hospitalares com 101 anos de existência.
Outra grave limitação, na visão de Pesinato, é a falta de áreas predominantemente industriais nos 15 km², o que leva a convivência forçada, e geralmente conflituosa, entre indústrias e residências da mesma vizinhança. Situação diametralmente oposta a de cidades do interior paulista onde predominam greenfields (terrenos amplos e a preços competitivos) em distritos industriais estrategicamente afastados dos centros urbanos.
Hotéis
Nos próximos meses, São Caetano deverá comemorar a abertura de dois hotéis, que integram o Espaço Cerâmica, megaprojeto imobiliário lançado há mais de uma década e com um shopping center de referência. Os hotéis das bandeiras Comfort e Quality deverão ser inaugurados até outubro, de acordo com a administradora Atlântica Hotels. O Comfort é voltado para faixa de público da chamada midclass (categoria média) enquanto o Quality integra categoria superior. O primeiro terá 180 apartamentos e o segundo terá 120 unidades. Deverão ser gerados cerca de 150 empregos diretos. A proximidade com a capital paulista e o esgotamento da capacidade hoteleira no epicentro de feiras e convenções da América Latina explicam a abertura dos empreendimentos.