Em assembleia realizada na manhã desta terça-feira (28), os trabalhadores na Ford, em São Bernardo, aprovaram acordo que evita a demissão de cerca de 850 funcionários e garante a estabilidade no emprego até 2018. A proposta, construída ao longo de mais de dois meses de negociação entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a empresa, garante também para este ano as cláusulas econômicas previstas no acordo anterior, como PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e reajuste já negociado na campanha salarial.
“Com este acordo conseguimos tirar o fantasma das demissões sumárias que pairava sobre a fábrica desde que a direção nos informou que não pretendia renovar o PPE. Ele vai dar conta de gerir o excedente nesse cenário de crise econômica, que tem impactado profundamente o setor automotivo, preservando os empregos e abrindo espaço para a discussão do futuro da planta”, afirmou o presidente do Sindicato e trabalhador na Ford, Rafael Marques.
A proposta aprovada prevê que a montadora otimize seu sistema de produção para atravessar o período de crise e a alta ociosidade das fábricas. Dessa forma, até setembro todos os funcionários terão passado por um treinamento para que possam trabalhar nas duas montagens finais – de carros e caminhões. Segundo a companhia, com a otimização e sinergia da mão de obra o mesmo grupo de empregados irá trabalhar nas duas linhas em dias alternados.
Outra medida aprovada em assembleia de trabalhadores é a prorrogação, por três meses, do Programa de Proteção ao Emprego para cerca de 3 mil operários. O PPE, adotado em janeiro, venceria amanhã. O programa permite a redução de jornada e salários – cuja parcela também é bancada pelo FAT – e valerá até que o treinamento dos trabalhadores seja concluído.
Com a decisão o programa se encerra a partir de outubro e o novo sistema será implantado, com produção voltando a operar de segunda a sexta-feira. Com a fusão, a empresa vai reduzir temporariamente o número de metalúrgicos nas linhas, gerando um excedente de cerca de 850 trabalhadores.
O acordo ainda prevê o início de um novo layoff para 450 metalúrgicos e a abertura de um PDV (Programa de Demissão Voluntária) com meta de adesão de 300 trabalhadores da produção e 100 do setor administrativo. A partir do fechamento dos PDVs, a estabilidade fica garantida até janeiro de 2018.
Durante a assembleia, Rafael Marques comentou a situação do setor. “As análises de mercado indicam que teremos uma recuperação muito lenta do setor se nenhuma medida de estímulo muito forte for feita pelo governo. A capacidade instalada é muito superior à demanda hoje e, por isso, a importância do acordo”, disse. A Ford, por exemplo, anunciou mais um corte em seu programa anual, de 1200 caminhões e 750 carros, para a planta de São Bernardo. “O sindicato vai continuar fazendo pressão com a direção da empresa. A Ford de São Bernardo é uma planta que mostrou muita capacidade, já reagiu a crises várias vezes. Precisamos continuar mostrando isso e buscando investimentos para a planta”, reforçou.
O dirigente também lembrou a importância da luta dos trabalhadores para a construção do acordo. “Foi um processo longo de quase três meses de negociação. A mobilização dos trabalhadores em atos como a paralisação da Rodovia Anchieta no início do mês, foi muito importante. Esse envolvimento ajudou a dar um rumo nas negociações”.
A Ford informou, também por meio de nota, que as medidas serão adotadas “em razão da contínua deterioração das condições de negócios e consequente redução dos volumes de vendas e produção”.