Atendimentos a não morador incham rede de saúde pública

Cerca de até 20% dos atendimentos são para munícipes de fora (Foto: Divulgação/FMABC)

A migração de moradores entre as cidades da região à procura de atendimento na área da saúde tem sobrecarregado os serviços de urgência e emergência das redes municipais. Cerca de 15% a 20% da demanda é originada de munícipes de cidades vizinhas. Em São Caetano, o número chega a 34%, enquanto em Mauá, 25%, e Santo André, cerca de 10%. Segundo o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, uma medida para sanar o problema seria a criação de Câmaras de Compensação, mas a ideia depende da vontade de municípios que se beneficiam com a situação.

De acordo com Homero Nepomuceno, secretário de Saúde de Santo André e diretor do Grupo Trabalho de Saúde, do Consórcio, as Câmaras de Compensação estão previstas no regimento do Sistema Único de Saúde e serviriam justamente para que as cidades que não são oneradas compensem as cidades oneradas. “No final de um determinado período, haveria uma reunião para que o município que atendeu mais receba mais recursos”, diz o médico.

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Entretanto, afirma, nunca se chegou a um consenso quanto à forma real de funcionamento dessa Câmara. “Todo mundo acha que atendeu mais que o outro. Se todo mundo reclama, alguém está se dando bem”, pontua. Nepomuceno acredita que as cidades que têm maior evasão tendem a não querer discutir o assunto. “O município sabe que vai sair perdendo”, opina.

Outro empecilho para o desenvolvimento da Câmara de Compensação seria a dificuldade do SUS de implantar o Cartão SUS, que unificaria um cadastro nacional com informações precisas sobre a cidade onde os cidadãos moram. Isso porque os municípios têm dificuldade para determinar de onde vêm os seus atendidos, uma vez que é comum o uso de endereços de parentes e conhecidos para se ter acesso aos serviços em determinada cidade. “Algumas delas até usam cartões próprios, mas em São Caetano, por exemplo, a Prefeitura apontou que o número de cadastrados era maior do que o número de moradores, então há um problema aí”, relata Nepomuceno.

Falta de números

Odete Gialdi, secretária de Saúde de São Bernardo, não soube apresentar qual era o número de atendimentos a não munícipes justamente pela falta de dados concretos sobre a cidade de origem dos pacientes da urgência e emergência. “Sabe-se que a UPA Pauliceia tem cerca de 30% do seu atendimento feito a não moradores”, diz. Tal situação permite ainda o questionamento dos números apresentados pelas prefeituras. 

Em Santo André, aponta-se que dos 386.788 atendimentos feitos entre janeiro e julho deste ano, 39.106 foram a moradores de outras regiões. Moradores de São Paulo são os que mais procuram pelos serviços na cidade, seguidos por Mauá e São Bernardo. Em Mauá, por sua vez, foram realizados 7.489 atendimentos. Do total, 1.304 atendidos são de fora, especialmente Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, São Paulo e Santo André. São Caetano, por fim, dos 142.840 atendimentos, 49.053 foram de pacientes, principalmente, de São Paulo e Santo André.

Gialdi sugere regionalização do sistema
 
Para Odete Gialdi, secretária de Saúde de São Bernardo, existe o inchaço, mas quando a pessoa precisa, o atendimento deve ser feito. “Saúde pública não diz não”, diz. Solução possível para o problema, entretanto, segundo a secretária, seria regionalização do sistema de saúde. “Este é um conceito importante, não tem como o município ser uma ilha. Mas para que este seja o enfoque, depende de coordenação do Estado, que não tem”, pondera. 
 
Nepomuceno informa que o Consórcio não tem pretensões de trabalhar em cima da Câmara de Compensação. Por enquanto, os esforços são para a Central de Agendamento Regional. “Vamos reunir nesse serviço um ponto para que os moradores possam agendar consultas em especialidades, para que ele possa ter o atendimento em outra cidade caso não haja onde ele mora”, diz.
 
Homero Nepomuceno afirma que as cidades menores não têm condições estruturais para desenvolver grandes especialidades em seus sistemas de saúde. “Mas é preciso investir em atendimento básico de qualidade, isso é imprescindível”, adverte. O secretário vai além na análise ao considerar que saúde não pode ser vista isoladamente dos demais setores. A cidade pode até perder com o excesso de atendimento nos hospitais, mas certamente ganha em arrecadação de impostos, aquecimento da economia, e isso tem que ser ponderado.

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