Produção de roupas em São Paulo cai 40% no primeiro semestre

A produção de roupas em São Paulo caiu 40% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do sindicato das confecções (Sindivestuário). O Estado foi o que mais apresentou queda no País, que teve um recuo perto de 20%. “É a pior crise dos últimos 40 anos”, diz o presidente do sindicato, Ronald Masijah.

Há duas principais explicações para a crise. A primeira é a queda no consumo, por causa do aumento da inflação e redução do crédito. Um levantamento da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI) e TNS Brasil, feito com mais de mil pessoas em diferentes regiões do País e divulgado nesta semana, mostrou que 84% dos brasileiros planejam economizar neste ano mudando o padrão de consumo. Para 77% dos entrevistados, o vestuário será um dos itens mais impactados, atrás somente do lazer. Com menos pessoas comprando, o varejo não repõe estoque e a indústria acaba demitindo funcionários e diminuindo a produção.

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Outra explicação possível são os impostos no setor, segundo Masijah. “Nós tínhamos uma proposta para a criação de um regime tributário específico para confecções, que durasse ao menos até que as empresas se estabilizassem, mas com a mudança de mandato ela foi arquivada”, diz Masijah. Isso faz com que o preço final do produto encareça, prejudicando a competitividade com importados. “Com a alta do dólar, em tese isso não deveria acontecer, mas ainda assim nossos custos superam os de importados”, explica Amnon Armoni, coordenador dos cursos de pós-graduação em Moda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

No caso específico de São Paulo, haveria ainda o agravante da falta de incentivos fiscais para a indústria no Estado. Como consequência, elas estariam migrando para Estados como Mato Grosso, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro, que oferecem incentivos como a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empresas do setor.

Na opinião dos especialistas, entre os poucos setores que não sofrem tanto com a crise estão os que apostam em moda massificada. Segundo Armoni, as empresas de moda popular operam em um esquema híbrido de suprimentos (peças que vêm principalmente da Ásia junto com algumas produzidas no Brasil) e têm como público a classe C, a que mais consome moda no País. “É uma das únicas áreas em que o público é fiel e que oferece produtos de desejo a preços relativamente acessíveis”, diz ele. Segmentos nos quais o Brasil é referência, como moda praia e lingerie, também encaram melhor o cenário de desaceleração econômica, de acordo com Masijah, pois o consumidor costuma optar por modelagens específicas.

Diante da crise, o presidente do sindicato é pouco otimista em relação a soluções a curto prazo que possam retomar a produção. “Dependemos da situação econômica do País como um todo, então não nos restam muitas alternativas”, afirma.

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