Coluna Alta Roda: Assim não dá

Menor consumo: Inovar-Auto (Foto: Banco de Dados)

Ganho de eficiência energética, ou menor consumo de combustível, é o maior benefício ao consumidor com o programa governamental Inovar-Auto. É economia direta para o bolso do motorista, principalmente se os fabricantes de veículos forem atraídos pelos incentivos adicionais estabelecidos e ultrapassarem a meta — compulsória — de 12% de ganho em 2017 em relação ao consumo da média dos modelos vendidos por cada marca em 2011.

As metas colocadas como desafio são consumir menos 15% e menos 19%, cada uma com prêmio de 1 ponto percentual de IPI, revertido para as empresas, por só três anos. No melhor cenário se atingiria a média de consumo de gasolina atual na União Europeia, apesar dos métodos de medição e combustíveis diferentes que, na prática, dão vantagem ilusória aos carros de lá. Até o momento nenhum fabricante daqui se voluntariou, mas há forte movimentação e segredos estratégicos.

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No simpósio sobre eficiência energética, emissões e combustíveis, realizado semana passada em São Paulo pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), viu-se que soluções são conhecidas, embora esbarrem em custos maiores. Como o País necessitará, nos próximos anos, de importação crescente de gasolina e diesel, contar com uma economia de até 28 bilhões de litros de gasolina entre 2014 e 2021 seria uma boa forma de manter em níveis baixos ou mesmo anular os gastos com combustíveis do Exterior.

Para Francisco Nigro, professor da USP e pesquisador do IPT, diferenciar metas do Inovar-Auto para etanol e valorizá-las adequadamente fazem todo sentido para o desenvolvimento tecnológico do setor no país. Sugeriu IPVA menor para carros com motores flex de melhor consumo relativo de etanol (há proposta semelhante no âmbito federal que ainda não saiu do papel). Lembrou que motor turbo, injeção direta e câmbio CVT formam combinação bastante favorável ao etanol, sem prejuízo de eficiência e desempenho ao usar gasolina.

Mário Massagardi, representando o Sindipeças, defendeu que os modelos mais eficientes em seus segmentos tenham incentivo específico ao apresentarem redução de consumo superior à média entre todos os modelos à venda. Ajudaria a estimular a introdução de tecnologias inovadoras e compensaria em parte seu maior preço.

Até agora o governo federal optou por dar uma espécie de “prêmio” a recursos que melhoram o consumo na vida real, porém sem refletir nos ciclos cidade/estrada medidos nos laboratórios: sistema desliga-liga motor, indicadores de troca de marcha e de pressão dos pneus, além de controle da aerodinâmica da grade frontal. Ar-condicionado de maior eficiência ainda não foi contemplado, embora esse equipamento esteja em mais de 80% dos veículos leves novos.

Discutiu-se ainda como veículos híbridos, plugáveis em tomada elétrica ou não, se enquadrarão numa segunda fase do Inovar-Auto e também a convergência aprofundada dos programas de consumo e de emissões veiculares. Má notícia veio dos bastidores: governo deve adiar pela segunda vez, para 1º de janeiro de 2017, a aditivação obrigatória da gasolina, para motores mais limpos e eficientes. Assim não dá.

Fernando Calmon é engenheiro e jornalista especializado desde 1967. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda estreou em 1999. É publicada em UOL Carros, além de uma rede de 105 jornais, revistas, portais, sites blogs brasileiros. Correspondente para América do Sul do site just-auto (Inglaterra) é consultor técnico de automóveis, de mercado automobilístico e de comunicação.

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