Comércio de rua tem impulso

Francisco diz que se se tivesse optado pelo Centro sairia caro (Foto: Pedro Diogo)

Apesar de muitos consumidores preferirem o conforto dos shoppings, a demanda tem animado o comércio de bairro. Em Santo André, a Associação Comercial e Industrial (Acisa), registra aumento de 9% no número de estabelecimentos do gênero nos últimos três anos, com 276 novas lojas de rua abertas. São Bernardo teve mais movimento, com avanço de 15%, de acordo a Associação Comercial e Industrial (Acisbec), no período.

Em Santo André, áreas como bairro Capuava, vila Assunção, Jardim Rina e bairro Camilópolis estão entre os novos destaques do varejo de rua, de acordo com Oswana Fameli, secretária de Desenvolvimento Econômico. No Capuava, o comércio se expande ao oferecer variadas opções de serviços, como farmácias, lojas de uniformes e de objetos de decoração. Com sonho de ser autônomo, Josenildo Francisco da Silva comprou a papelaria Bazar Seninha, na rua Apalaches. “Fui funcionário por 12 anos numa empresa e há um ano estou aqui”, conta. Com oferta de serviços que vão até de fiação de facas 24h, a loja se beneficia da linha de ônibus que passa perto e da proximidade com o mercado Primavera, há 32 anos na área.

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Francisco Eneias da Silva abriu a loja de roupas Modas Paula em frente ao mesmo mercado e diz que a localização ajuda. “Muitos clientes saem do mercado, vêm fazer compras, e se fidelizam”, diz. Sair da área nem pensar. “Se eu fosse para outro ponto no centro eu gastaria muito mais. Aqui eu tenho clientela e menos custos”, diz ao lamentar a falta de segurança, principalmente a ocorrência de assaltos contra o Mercado Primavera e pedestres. “A ronda municipal deveria passar aqui com mais frequência, há muitos crimes nos pontos de ônibus”, completa Josenildo Silva.

Mas a insegurança não é empecilho para alguns clientes da loja de roupas. “Nós trabalhamos aqui perto, conhecemos todo mundo, e isso torna o bairro mais seguro”, diz a compradora Marta Pires, acompanhada de Cátia Miranda, ambas funcionárias de escola próxima. “A gente prefere comprar por aqui, é mais rápido do que ir até o centro”, diz Marta. “Se formos contar o preço da compra com o preço do ônibus que nos levaria até o centro, o gasto final seria o mesmo”, afirma Cátia.

Olho-no-olho

Em São Bernardo, o resgate ao comércio de bairro ocorre no Alvarenga e vila São Pedro. Mas a vila Caminho do Mar não fica atrás, principalmente no entorno da avenida Presidente Arthur Bernardes, onde o comércio chegou há cerca de um ano, com casas de bolo, espetaria, salão de beleza e a rotisseria Os Brasilianos, cuja proprietária é Ângela Costa. Moradora de Rudge Ramos, Ângela sentia falta de restaurante na área com melhor qualidade. Com apoio dos vizinhos, inaugurou a rotisseria. “Aqui eu tenho relação estreita com os clientes e, atendendo a pedidos, decidi transformar o negócio num restaurante”, diz. Ângela diz que, em comparação com shoppings, perde apenas em estacionamento fechado e no fácil acesso. Mas eles não oferecem o atendimento olho-no-olho, e isso você tem aqui”, sugere.

Vizinhas ao restaurante, as cabeleireiras e sócias Lu Henrique e Cássia Mendes, do Espaço Beleza, estão animadas. “Por enquanto trabalhamos só com mais duas manicures, mas queremos ter mais quatro cabeleireiras até dezembro”, diz Lu. A dupla apostou na deficiência de serviços no bairro e na fidelidade da clientela para abrir a casa. “Desde que a gente se mudou para cá o movimento cresceu uns 70%”, comemora Cássia.

Empreendedor critica poder público

Em São Bernardo, os novos empreendedores ressaltam que o gestor público precisar olhar com atenção para o crescimento comercial do bairro. “O único apoio que a Prefeitura dá são os impostos mais altos. Todas as taxas são mais caras quando abrimos estabelecimento”, reclama Lu Henrique. Ângela Costa está incomodada com os riscos de acidentes na esquina das avenidas Arthur Bernardo e Dr. Carlos de Campos. “Eu pedi à Prefeitura para instalar um semáforo porque há risco de atropelamento. Disserem que já há uma placa de alerta aos motoristas, mas uma árvore encobre a sinalização”, afirma.

As prefeituras de Santo André e São Bernardo informam que possuem ações para esse público, como as salas do empreendedor para ajudar os comerciantes. De acordo com Everton Prates, assistente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, a gestão realizou eventos em shoppings para atender 860 empreendedores, além dos atendimentos diretos na própria sede da Prefeitura. “E realizamos, ainda, o plantão móvel, que leva a Sala do Empreendedor diretamente aos bairros. Sabemos que as pessoas muitas vezes não sabem que prestamos esse serviço”, diz. Os entrevistados, de fato, desconhecem o serviço.

Sobre problemas de trânsito, Prates diz que não são de responsabilidade da Pasta. “O que podemos fazer é encaminhar para outro setor da Prefeitura que possa lidar com o pedido”, informa.

Oswana Famelli afirma que a Sala do Empreendedor local também oferece mecanismos para capacitação profissional dos comerciantes de bairro. “Criamos ainda a Coordenadoria de Fomento ao Comércio, que visita os bairros e levanta as necessidades. Junho já tem 6 comunidades com visitas agendadas”, diz.

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