Prévias apontam que Billings teve piora na qualidade da água

Obras do Rodoanel acumularam detritos na Billings (Foto: Ana Paula Lazari)

O projeto Expedição Billings começou há pouco, em 29 de março, mas os números das análises prévias já demonstram que houve aumento na poluição do reservatório. Marta Ângela Marcondes, professora da Universidade de São Caetano do Sul (USCS) responsável pela iniciativa, alerta que os 35 pontos de coletas já feitas indicam uma piora de 20% na qualidade da água em comparação com os últimos levantamentos feitos em 2010.

Marta demonstra surpresa com os resultados, e reforça que o agravamento da situação se deu em curto período de tempo. “As últimas pesquisas que fizemos foram em 2002 e 2010, nesta última com a participação da Rede Globo. O cenário urbano se modificou muito em cinco anos, e é por isso que o quadro se agravou”, explica a professora. “Hoje há muitas áreas que antes não eram ocupadas, que foram invadidas, que têm lançamento de matéria orgânica e sofreram assoreamento.” As obras do Rodoanel também são apontadas pela professora como causa do acúmulo de detritos no leito de parte dos braços da Billings.

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“Estamos ainda no início da primeira fase do projeto, mas já é observável que a lei da Billings não está sendo cumprida”, afirma Marcondes. Segundo a professora, a lei referida, sancionada em 2010, foi uma conquista de anos de estudo e engajamento em defesa do reservatório. “Trabalho na análise das condições da Billings há 20 anos. Há 50 os estudiosos têm alertado sobre o descaso com a represa. Só agora, com a crise hídrica e com a possibilidade de transposição das águas para o Alto Tietê, é que a represa voltou a ser discutida. A poluição não surgiu da noite para o dia”.

A professora lembra que os braços poluídos não são os mesmos que abastecem os lares da região. “As casas recebem águas dos rios Grande e Pequeno, que estão em melhores condições para consumo”. Até o fechamento da matéria, contudo, tais braços não haviam sido medidos. “Estamos numa situação em que sempre pode haver surpresas”, esclarece Marta.

A estudiosa faz ressalva em relação ao enfoque dessas pesquisas, lembrando que a conservação das águas vai além das demandas quanto ao abastecimento. “A Billings é um ecossistema que abriga diversas formas de vida e espécies animais”, diz. “Apesar dos desequilíbrios ambientais afetarem a espécie humana de forma indireta, não é só essa questão que está em jogo. Temos que pensar além do abastecimento, porque não fizemos nossa lição de casa”.

Tiro no pé

Em 1º de abril, o RD divulgou matéria com relato de que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) irá reduzir em 55% os investimentos em tratamento de esgoto. O objetivo da instituição é garantir recursos para contornar a atual crise do abastecimento hídrico. Marta Ângela Marcondes critica a decisão.

“Isso é um tiro no pé, uma iniciativa que não tem fundamento. Acredito que 50% do esgoto da região não é tratado, e a Sapesb vai reduzir mais? Como vão usar isso para resolver o problema da falta de água?”, questiona a professora. “É preciso investir na despoluição, na regularização das casas e, principalmente, na educação. Temos que ter um novo olhar sobre o problema, pensar melhor sobre o que consumimos e para onde lançamos nosso lixo, e isso começa dentro de nossas casas.”

Próximos passos

No último dia 10 de abril se finalizou a segunda semana da primeira fase da Expedição Billings, que corresponde às coletas de amostras feitas pelo eco esportista Dan Robson. “Ainda faltam cinco semanas, e no final teremos percorrido 150 áreas. Pretendemos, até o mês de julho, finalizar as análises e estatísticas para uma comparação mais concreta com os dados de 2010”, diz.

Em agosto se inicia a segunda fase, com devolutiva dos levantamento à sociedade civil. “Realizaremos seminários em todas as sete cidades do ABC e na Zona Sul de São Paulo, porque queremos a mobilização dos cidadãos em torno desse tema”. A primeira cidade a receber o seminário, segundo Marta, será Diadema, mas ainda não há data definida.

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