Atenção pública à mulher deixa a desejar

Para especialistas, atenção é apenas para mulher reprodutiva e não integral. (Foto: Évora Meira)

A comemoração do Dia Internacional da Mulher, neste domingo (8), gera questionamentos sobre os reais avanços femininos na sociedade. Mesmo no ABC, onde algumas cidades formulam política e oferecem serviços e equipamentos específicos como abrigos, delegacias, entre outros (ver tabela nesta página), não dá para dizer que as mulheres estão em situação de igualdade com os homens e protegidas da violência.

A reportagem do RD foi às ruas para ouvir o que as mulheres da região têm a dizer sobre os serviços públicos exclusivos oferecidos pelas sete cidades. A maioria se queixou da qualidade da saúde às pessoas do sexo feminino e pediu mais atenção das autoridades aos problemas que envolvem a segurança da mulher.

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As reclamações não são novas e se repetem, talvez porque o avanço observado nos últimos anos ainda seja insatisfatório. Carla Cristina Garcia, professora de Sociologia da USCS (Universidade de São Caetano do Sul) afirma que o problema é que “o Estado é feito por homens e para os homens”.

Para a socióloga, o funcionamento e o alcance desses equipamentos deixam a desejar, de forma geral. Os avanços seriam maiores nas áreas voltadas à maternidade. “É importante perceber que os equipamentos públicos são feitos para atender a mulher enquanto genitora, enquanto mãe. Pouco é feito para a melhoria da condição feminina em seu todo”, afirma.
“Há delegacias de defesa da mulher. Mas funcionam bem? Há cotas para partidos políticos, mas há o devido apoio para que as mulheres saiam candidatas? O que existe de fato é apoio no sentido reprodutivo, como se essa fosse a única função no universo feminino”, critica Carla Cristina.

Coordenadora do curso de Ciências Sociais da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), Claudete Pagotto concorda com a professora da USCS ao ressaltar que os avanços são ainda menores quando envolve a questão racial. “Se além de mulher, for negra, a situação é pior”, afirma. Para a socióloga da Umesp, quando o assunto é trabalho e renda, a mulher até tem ganhado espaço, mas em setores específicos ou quando o sistema produtivo precisa reduzir custos. “Há a feminilização do trabalho em setores como serviços, atividades domésticas e educação”, diz Claudete Pagotto.

Apesar disso, Claudete entende que os debates iniciados a partir dos anos 1980 e as iniciativas públicas dos últimos 10 anos contribuem para que esta realidade mude aos poucos. Equipamentos como abrigos existentes na região para mulheres em situação de risco são conquistas a serem comemoradas. “É importante que esses equipamentos se espalhem pelo Brasil, pois são ferramentas importantes para as mulheres se conscientizarem”, diz a coordenadora de Ciências Sociais.

Serviços especiais que as cidades oferecem à população feminina

Santo André

Hospital da Mulher – atendimentos em gerais, palestras, exames, e atividades extras
Programa Vem Dançar –aula de dança, no dia 29/03, às 9h, no Parque Central
Ginástica para adultos e terceira idade (GATI) – atividade que contemplam as mulheres, mas homens também podem fazer aulas de Educação Física, com prática de exercícios em ginásios esportivos, CESAs (centros educacionais de Santo André), Emeiefs (Escolas Municipais), Paço, em um Complexo Esportivo e em locais parceiros
Programa Pé no Parque – voltado para todas as pessoas, atividades ao ar livre, ministradas por professores de ed. física, nos parques Ginásios Esportivos, Cesas (Parque Antonio Fláquer (Ipiranguinha), Parque da Juventude Ana Brandão, Parque Central, Parque Antonio Pezzolo (Pignatari)
Delegacia de Defesa da Mulher
Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Vem Maria

São Bernardo

Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia enviado as informações solicitadas

São Caetano

Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism)
Centros da Terceira Idade – atividades físicas
Fundo Social de Solidariedade – cursos

Diadema

Casa Beth Lobo – realização de atividades, cursos, dança e oficinas.
Delegacia de Política de Defesa da Mulher
Programa Mulheres em Movimento – desenvolvimento de formas de expressão, cooperação, autonomia e participação social por meio de atividades físicas
Fundação Florestan Fernandes – cursos
Fundo Social de Solidariedade – cursos de beleza


Delegacia da Mulher é um dos serviços de Diadema. (Foto: Marcos Luiz)

Mauá

Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM)- acesso às políticas e programas sociais
Serviço de Atenção à Violência Contra Mulher – localizado no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)
Núcleo de Atenção à Violência Sexual (NAVIS)
Violência Física e Social –
localizado no Pronto Socorro do Hospital De Clínicas Dr. Radamés Nardini
Delegacia de Política de Defesa da Mulher.

Ribeirão Pires

Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia enviado as informações solicitadas

Rio Grande da Serra

São 21.886 mulheres no município, totalizando 49,7% da população
Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia enviado as informações solicitadas


Santo André
“O setor público daqui precisa dar mais atenção para a mulher, principalmente na área de segurança pública”, Karina Garcia, artesã, 34 anos.

 
São Bernardo
“Está horrível aqui em São Bernardo, fiquei dois meses para marcar um exame nesta cidade”, Lucineia Márcia Simões, doméstica, 48 anos.


São Caetano
“Cuidam muito bem das nossas mulheres, não tenho o que reclamar aqui em São Caetano”, Elaine Tomazi dos Santos, advogada, 40 anos.


Diadema
“Os postos de saúde de Diadema deixam muito a desejar, deveriam dar mais atenção para nós”, Elaine Vieira de Abreu, dona de casa, 44 anos.


Mauá
“Na área da saúde, falta muito ainda para melhorar na cidade de Mauá”, Claudia Rodrigues, cabeleireira, 28 anos.

 
Ribeirão Pires
“Tem muito que melhorar na saúde pública daqui de Ribeirão Pires. Este é o pior setor do município”, Márcia Vidal, recepcionista, 35 anos.


Rio Grande da Serra
“A segurança pública para a mulher e principalmente a saúde precisam ser melhoradas, é complicado”, Emily Pereira, estudante, 23 anos.

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