O bem-estar sob risco nas cidades

A ação do homem na execução de podas desequilibra a árvore e favorece o apodrecimento do tronco e raízes, fator significativo para queda. (Foto: Robson Fernandjes / Fotos Públicas)

Verão é tempo de chuvas e ventos fortes! Não é novidade a suscetibilidade das árvores nessas condições climáticas. Prefeituras e concessionárias de energia elétrica têm de se preparar para evitar acidentes, que podem afetar o trânsito, fornecimento de energia elétrica e causar danos às propriedades e até pessoas.

Podemos considerar o ser vivo árvore como uma estrutura complexa que, diante de forças do vento ou instabilidade do solo, com a copa e o tronco encharcados pelo excesso de chuva, ficará sujeita à queda. Nas cidades em que a arborização urbana não foi planejada ou não há o manejo adequado, esse risco se agrava pela escolha inadequada do local ou das espécies de árvores. Somam-se a isto as interferências urbanas que afetam o crescimento, como o tamanho dos canteiros e das calçadas e as redes de abastecimento de energia, água, esgoto e gás. A ação do homem na execução de podas inadequadas pode desequilibrar a árvore e favorecer o apodrecimento do tronco e raízes, fator significativo para queda.

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A tomada de decisão sobre o manejo adequado depende do conhecimento da biologia das espécies, das pragas, dos organismos deterioradores, como cupins e fungos, e da fisiologia e anatomia vegetal. Para a análise do risco de queda, acrescenta-se a biomecânica das árvores, área da ciência relativamente nova que reúne o conhecimento de engenharia e biologia e que considera a árvore como uma estrutura, sujeita às intempéries, mas que também reage às interferências externas. Portanto, caracteriza-se a necessidade da formação e aprimoramento dos profissionais responsáveis pela avaliação das árvores dos quais muitas vezes carecem as prefeituras.

Apesar do conhecimento existente, deve-se ressaltar que a avaliação do risco de queda de uma árvore possui incertezas. No entanto, elas tendem a diminuir com a utilização de equipamentos para avaliações não destrutivas e de tecnologias confiáveis de diagnóstico. Institutos de pesquisa e universidades têm papel importante no aprimoramento dos critérios de tomada de decisão, com base técnica e científica, para ajudar o poder público na gestão da arborização urbana.

Hoje, o principal gargalo tecnológico está na avaliação das raízes pelo fato de estarem enterradas. É necessário verificar sua distribuição e sanidade; a tecnologia de tomografia e radar está sendo validada em todo o mundo para esta situação, inclusive no Brasil. A fatalidade ainda acontece, uma vez que não é possível se inferir sobre o estado do sistema de raízes das árvores, e exemplares completamente sadios também podem cair pela ação do vento e peso próprio. Entretanto, é inadmissível, diante de evidências objetivas de problemas, não se estabelecer uma manutenção preventiva a fim de minimizar os riscos às cidades.

Em bairros de arborização melhor estabelecida, vive-se o dilema de os exemplares estarem iniciando seu processo de declínio e necessitarem de mais cuidados. Tecnicamente é necessário um monitoramento mais frequente e práticas de manejo, o que inclui a decisão sobre a remoção ou poda das árvores. Deve-se evitar qualquer postura conservadora, que descaracterize as árvores das cidades com podas drásticas, além de uma pró-atividade conservacionista equivocada, que impeça qualquer manejo necessário a favor da segurança.

Cabe à prefeitura e às empresas que venham a serem contratadas para trabalhar com a arborização urbana, a utilização do melhor conhecimento e da tecnologia mais moderna para a iniciação, com urgência, do inventário de árvores da cidade, estabelecendo-se um programa de manejo preventivo, com prioridade para os bairros com arborização mais antiga, as avenidas e os locais com grande concentração de veículos e pessoas, entre outros critérios. Em um projeto piloto e abrangente, o IPT tem desenvolvido este tipo de trabalho em conjunto com Mauá.

Sérgio Brazolin é biólogo, doutor em engenharia florestal e pesquisador do IPT.

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