Senado estuda implantar cota só para mulheres

Leonice: a presença eleva a qualidade da política. (Foto:Divulgação)

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado discute o projeto que estabelece participação mínima das mulheres na composição do plenário da Casa. O projeto do senador Aníbal Diniz (PT-AC) prevê que em todas eleições para o Senado em que estiverem em jogo duas vagas, uma delas deverá ser preenchida, obrigatoriamente, por uma mulher. Na prática, seria aprovada uma cota, a qual destina um terço das vagas para as mulheres. A iniciativa, apesar de a primeira vista fomentar a participação feminina, não resolveria o problema, segundo fontes consultadas pelo RD.

A presidente municipal do PTB de Santo André, Dinah Zekcer, ex-vice-prefeita (2009/2012) destaca que a empreitada é positiva, mas não resolve a origem da questão. “A maior dificuldade é fazer as mulheres quererem participar do processo eleitoral. Elas apresentam muita resistência. Convido muitas pessoas e elas recusam. Hoje para montar chapa já é um problema”, disse.

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Dinah cita como exemplo o cenário da Câmara de Santo André. “Na minha época de vereadora, o máximo que conseguimos foi eleger quatro vereadores entre os 21 possíveis no Legislativo. Na gestão passada, quando eu fui vice, não tivemos vereadora e hoje temos apenas uma”, enumera.

Em São Bernardo, por exemplo, maior Casa com 28 vereadores, nenhuma mulher foi eleita. Em São Caetano é apenas uma entre 19 parlamentares. Hoje os partidos já são obrigados a preencher 25% das chapas proporcionais com a presença feminina.

Segundo a vice-prefeita e secretária de Educação de Ribeirão Pires, Leonice Moura, as mulheres tendem a ser mais preocupadas com questões sociais, de saúde e educação. “A presença delas eleva a qualidade da política. Quando homens e mulheres lideram juntos, tomam decisões que atendem melhor a diversidade e as necessidades da sociedade”, disse. (Colaborou Brenno Souza)
 

Luciana Genro e especialista dizem que sistema não resolve

A deputada federal e candidata derrotada a presidência da República, Luciana Genro, diz ser a favor da cota porque acredita que é uma forma de estimular e mulher na política. “Mas a cota não resolve a situação. É necessária mudança de mentalidade, que não é responsabilidade exclusiva dos governos, mas também dos cidadãos”, opinou em entrevista por telefone para o RD. “Além de políticas púbicas que ofereçam condições básicas para a mulher poder participar da política sem deixar de fazer seus afazeres, as creches por exemplo”, completa.

Luciana afirma que apoia as cotas, por achá-las necessárias, mas elas são insuficientes sem uma política pública objetiva que dê condições de a mulher participar e não ser uma laranja. “Eu acho válido todas as iniciativas que busquem estimular a participação das mulheres, mas não acho sufiente porque não há políticas mas objetivas que possam garantir a participação cotidiana nas mulheres no dia a dia da política, não apenas no momento das eleições.

“Mas isso não resolve. O problema é muito maior, o buraco é mais embaixo. É preciso mudar a forma de organização dos partidos. Hoje alguns mandam e todo o restante obedece”, avalia o professor de Ética da Unicamp, Roberto Romano.

O Senado tem uma forma peculiar de escolha dos seus representantes. A cada quatro anos realiza eleições. Este ano, disponibilizou uma vaga por Estado. Daqui a quatro anos, oferecerá duas por unidade da Federação. Assim, se a proposta for aprovada, pelo menos um terço desse total será ocupado, obrigatoriamente, por uma candidata. (LA e BS)


Luciana: mulheres não podem ser apenas laranjas

 

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