Companhia Shakespeares Globe traz Hamlet ao País

Em comemoração aos 450 anos do nascimento de William Shakespeare, a Shakespeares Globe Theatre, companhia sediada em Londres, vem se aventurando em uma ousada turnê que, iniciada em abril, deve levar Hamlet a 205 países até abril de 2016 (quando a morte do Bardo completará 400 anos). Primeira cidade brasileira a receber o espetáculo, São Paulo terá três apresentações, entre terça e quinta-feira, 27, no Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros. Depois, a trupe segue para o Rio e Belo Horizonte.

O projeto Globe to Globe iniciou as apresentações do clássico em Londres, de onde partiu para uma viagem por alguns países da Europa – sobretudo do Leste. Circulou, então, por algumas cidades dos EUA e da América Central, voltou à Europa e, desde outubro, roda pela América do Sul, começando por Georgetown, na Guiana.

Newsletter RD

“Há inúmeros desafios logísticos nesta empreitada”, diz o produtor executivo da companhia, Tom Bird. Entre as dificuldades de se fazer uma turnê mundial deste porte, ele cita manter a companhia segura e saudável, checar se todos têm seus vistos em dia, lidar com complicações de transporte e até mesmo fazer com que o elenco se mantenha interessado na ideia de montar um espetáculo. “Há sempre horas difíceis, mas elas não são nada perto dos bons momentos.”

E, nas palavras de Bird, a resposta do público tem sido muito, muito surpreendente. “Há muitas primeiras vezes nesta viagem – primeira vez que o Globe visita tantos países, primeira vez que alguns países recebem uma companhia inglesa e, para alguns, é até mesmo a primeira vez que veem uma peça de Shakespeare.” Bird conta que, em todos os países pelos quais a trupe passou até agora, o público demonstra se sentir energizado pela montagem e admirado pela audácia do projeto. “As reações da plateia mudam não só de país para país, mas de apresentação para apresentação.”

Criado no século 16, o Globe Theatre passou por um processo de reconstrução iniciado pelo ator, diretor e produtor americano Sam Wanamaker (1919- 1993) na segunda metade do século passado. Reaberta em 1997 pela Rainha Elizabeth II, a instituição é dedicada a explorar as obras de Shakespeare por meio de performances e ações educacionais.

Escrito entre 1599 e 1601, o enredo de Hamlet se passa na Dinamarca e trata da trajetória de uma vingança: o personagem-título tenta vingar a morte de seu pai, Rei envenenado pelo próprio irmão para que este pudesse lhe tomar o poder.

“É uma peça fantasticamente rica e múltipla”, diz o diretor artístico da Shakespeares Globe, Dominic Dromgoole. Ele divide a direção do espetáculo com Bill Buckhurst. “Tem efeitos diferentes em lugares diferentes: pode desafiar, inspirar, consolar.” Para ele, apesar de ser uma tragédia, Hamlet é mais engraçado do que se pensa. Segundo o diretor, uma das razões pela escolha deste texto para rodar o mundo é, justamente, sua universalidade. “Os temas têm a ver com adultos e crianças, há revolta e depressão. Qualquer um, em qualquer lugar, que se sinta fora de lugar no mundo e que queira criar um novo futuro, vai se reconhecer de alguma maneira no Hamlet”, acredita.

Para a montagem – largamente elogiada pela crítica estrangeira -, o Globe procurou se aproximar do espírito com o qual Hamlet foi escrita, não com o espírito com o qual a peça foi executada nos últimos 100 anos. Dromgoole aponta que o personagem se tornou um ícone da neurose e da angústia pós-freudiana. “Isso tem muito pouco a ver com a origem do texto. Hamlet surge como um garoto bonito e brilhante, que, depois, fica destruído pelas maquinações do mundo em que está inserido.”

O grupo teve encenações recentes de Hamlet, em 2011 e 2012, sempre com um elenco de oito atores. Desta vez, como o projeto é o maior encabeçado pelo grupo até agora, 12 atores foram selecionados. A ideia é dar aos profissionais a chance de variar os personagens interpretados, para que ninguém passe dois anos dando vida a apenas um papel. É, também, uma maneira de dar folgas aos atores, ao mesmo tempo em que se apresentam diferentes versões da peça pelo mundo.

Dois atores se revezam na pele do protagonista: Ladi Emeruwa, que nasceu na Nigéria e hoje se divide entre Lagos e Londres, e Naeem Hayat, que é de Londres, mas tem raízes no Paquistão. A multiplicidade étnica se estende ao elenco que tem, ainda, um ator maori, uma atriz com raízes em Hong Kong, entre outras origens.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes