Governo Dilma Rousseff precisa retomar confiança na economia

Preços de combustíveis devem subir na bomba até o final do ano. Foto: Évora Meira

A presidente reeleita Dilma Rousseff terá pouco tempo para comemorar a vitória conquistada no último domingo (26). A petista tem pela frente o desafio de retomar o crescimento do País, que deve ficar próximo a zero neste ano.

O reaquecimento da economia será especialmente importante para o ABC, que foi atingido em cheio pela crise que assola a indústria nacional. A região, que ainda tem um forte perfil industrial, viu os empregos no setor diminuírem nos últimos meses.

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Ou o País cresce, ou o risco de desemprego no ABC será cada vez maior. Montadoras suspenderam contratos de diversos metalúrgicos (ao invés de demitir) na esperança que a fase ruim vai passar.

Economistas da região ouvidos pelo RD acreditam que o principal desafio da presidente reeleita será adotar medidas para mudar o humor de consumidores e empresários, que não foi dos melhores nos últimos meses.

Mau humor

Um dos motivos para o baixo crescimento é que os chamados “agentes econômicos” colocaram o pé no freio. Ou seja: sem perspectivas positivas para a economia, os empresários reduziram os investimentos e os consumidores passaram a comprar menos.

“Em economia temos um negócio sério que se chama confiança no futuro. O governo vai ter que sinalizar uma linha de atuação, para pelo menos mudar um pouco o humor do mercado, ou seja, humor de nós consumidores e dos empresários”, explica o economista Leonel Tinoco, presidente do Conselho Regional de Economia.

Neste momento, portanto, o mais importante é que o governo sinalize com mudanças concretas – mesmo que elas não sejam realizadas agora.

“O humor de mercado muda com algumas poucas palavras que sejam diretas e que influenciem a cabeça dos agentes econômicos, ou seja, dizer por exemplo que vai entrar com uma reforma para simplificar o sistema tributário. Mesmo que isso demore seis ou sete meses”, afirma o economista Leonel Tinoco. “O que for feito para melhorar a economia nacional vai acabar refletindo no ABC”.

Entre as medidas práticas está um combate mais efetivo à inflação. “É preciso mostrar que há uma política forte para estabilizar preços, ajuste de câmbio, além de investimento em infraestrutura. São três grandes sinais importantes para demonstrar que há uma perspectiva de melhoria no horizonte”, explica o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio.

“Para o ABC espero que o ano que vem seja melhor, porque esse ano foi muito duro, principalmente pela crise do parceiro comercial, a Argentina. Acredito que dificilmente será um ano tão difícil como 2014”, diz Maskio.

O técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Thomas Jensen, também está otimista. “Os empresários já conhecem bem a linha de atuação do próximo governo, então a tendência é que os projetos de investimentos que estavam adiados na espera da definição das eleições sejam postos em marcha já no início do ano”.

A indústria espera ações para recuperar situação crítica. “Os principais problemas da indústria precisam ser atacados para retomarmos a competitividade”, opina. “O Brasil está complicado demais. Precisamos de simplificação, desoneração e previsibilidade, que nos afeta nas questões trabalhistas e tributárias”, afirmou. “A micro e pequena empresa tem um poder de recuperação grande, basta que o sistema pare de atrapalhar.”

Mais de 3.500 vagas de trabalho foram fechadas na indústria do ABC nos meses de abril, maio e junho deste ano.

“Haverá aumento nos preços”, diz Sincopetro

“A Dilma terá que tomar decisões rápidas. O setor precisa ser recuperado”, afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia, sobre a reeleição de Dilma Rousseff.

A relação do comércio de combustíveis com a reeleita presidente está estremecida. O setor afirma que a recuperação da Petrobrás é um dos pontos mais importantes para o período. Segundo Gouveia, os preços praticados pela Petrobrás estão fora da realidade atual. “O governo da petista estará sobre vigilância. O próximo mandato será uma continuidade, mas terá que ter medidas diferentes”, declara o presidente.

O setor prevê aumento no preço dos combustíveis, mas não de imediato. “Há sim previsão de aumento na bomba da gasolina, mas não agora”, declara Gouveia sem, contudo, apontar o percentual de reajuste.

(Colaborou Érika Daykem)

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