Coop completa 60 anos preocupada com a economia

Marcio Valle é diretor-presidente da Coop. Foto: Divulgação

A Coop – Cooperativa de Consumo – chega aos 60 anos com o status de maior cooperativa de consumo da América Latina. Em entrevista ao RD, o diretor-presidente Márcio Francisco Blanco do Valle destaca que para alcançar resultados satisfatórios, apesar da redução observada no fornecimento previsto para 2014, algumas ações, como revisão de receitas e despesas, foram necessárias para se adequar ao nível de competitividade do mercado.

“Para não termos resultados negativos neste ano, a Coop reduziu 10% de suas despesas operacionais e 5% do efetivo. Foram reduções drásticas, mas necessárias para preservar a saúde da cooperativa e a empregabilidade dos 5.800 colaboradores”, explica Valle.

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As mudanças estratégicas também, segundo ele, preparam a Coop para 2015 que deverá ser um ano de ajustes para a economia independentemente de quem seja eleito presidente.

“Estamos observando uma queda no fornecimento em 2014, que deverá continuar no próximo ano, devido à perda do poder aquisitivo, principalmente com as demissões no ABC, alto endividamento e corrosão do poder de compra devido à inflação. Além disso, a expectativa de aumento de preços represados, como nos transportes, energia elétrica e combustíveis, contribui para reduzir o nível de confiança da população, retraindo ainda mais a disposição para o consumo”, acrescenta o diretor-presidente da Coop.

Atualmente a Coop possui 28 unidades de distribuição, sendo 21 no Grande ABC, uma em Piracicaba, três em São José dos Campos, duas em Sorocaba e uma em Tatuí, além de três postos de combustíveis e quatro drogarias externas. Em 2013 a Cooperativa fechou o exercício com fornecimento bruto de R$ 1,967 bilhão.

Neste ano, a Coop anunciou investimentos da ordem de R$ 123,5 milhões a serem aplicados na aquisição de um terreno para construção de um novo CD – Centro de Distribuição, novas unidades, reforma de lojas e compra de equipamentos.

O investimento também contempla a implantação de cinco drogarias externas, sendo que duas já foram inauguradas – uma em maio, totalizando três unidades em São Bernardo do Campo, e outra no mês de agosto na cidade de Santo André.

Com essas inaugurações, a Coop passa a contar com 32 drogarias (28 delas anexas às unidades), sendo que 29 já operam com o Programa Farmácia Popular do Ministério da Saúde.

A Cooperativa oferece o Convênio Drogaria, hoje com 100 empresas conveniadas na região do ABC e interior de São Paulo. Juntas beneficiam mais de 35 mil funcionários, que contam com até 40 dias para pagar as aquisições de medicamentos. São empresas de pequeno e médio porte que aprovam um limite mensal para que o colaborador tenha acesso aos medicamentos disponíveis nas drogarias.

Repórter Diário: Qual o balanço que o senhor faz de 2014?
Márcio Valle: Não está sendo um ano fácil. O varejo, em geral, vinha com um crescimento bom nos últimos anos. Passou praticamente impune a crise em 2008, mas agora a economia já vinha dando sinais, principalmente na indústria.

RD: Algum ponto positivo neste ano, apesar das intercorrências que o senhor citou?
Valle: Tivemos um primeiro semestre razoável, mas de julho em diante observamos uma queda (crescimento real de 6% e que agora está 0,3%, no segundo semestre). Isso se deve a uma mudança de habito. As pessoas diminuíram a freqüência no mercado e buscam marcas mais baratas. É uma queda de volume real, típico de uma situação insegura para o consumidor, principalmente para nós onde as montadoras têm impacto. Quando a montadora coloca em férias coletivas e lay off a repercussão é muito forte. Ai contamina porque o varejo vive de crédito e renda disponíveis.

RD: A inflação preocupa?
Valle: Nós temos uma inflação, que não é alta, mas estamos mais sensível a ela. A nossa intolerância a ela aumentou e as pessoas se retraem. Esse cenário aliado a insegurança do próximo governo em relação a retomada do crescimento e as linhas macroeconômicas em ordem. Estamos com alta divida pública, déficit nominal, as receitas de tributo não aumentam e os gastos públicos sim. Quando você tem que tomar um remédio ruim a expectativa é muito pior do que depois.

RD: Qual seria o remédio ruim?
Valle: Alinhar preços. Energia, combustível, ajustes de transporte. É um mal necessário. O governo de SP tira hoje verba de outras áreas para custear o transporte. Precisa retomar o esforço em infraestrutura e produtividade, portos e aeroportos. E de longo prazo é a educação. Nós falamos muito em curar a febre, mas se tiver pessoas preparadas com produção intelectual isso faria naturalmente o restante melhorar.

RD: Qual o balanço dos 60 anos da Coop?
Valle: Muito positivo. Surgiu de um projeto orientado pela Rhodia. Além de estarmos em um local que cresceu muito como o ABC, teve também a competência e a visão da Rhodia de apoiar esse crescimento. Chegamos como a 13ª maior empresa supermercadista do Brasil, maior cooperativa da América do Sul (1,6 milhão cooperados). E num padrão de operação que não deixa a desejar a outras empresas de varejo.

RD: E o balanço da atual gestão?
Valle: Estamos há 1 ano e meio e estamos focados em retomar a capacidade de crescer buscando rentabilidade. Ela precisa crescer.. A razão da cooperativa é o cooperado e o que faz ele vir aqui é ter um ambiente agradável de compra e com um preço acessível. O outro eixo é o colaborador. Se a gente cresce, cada loja nova representa novas funções de lideranças que geramos e isso dá visão de futuro. Produtos e serviços com qualidade e preços competitivos e o colaborador atendendo bem. Essa é a formula do crescimento nos últimos 60 anos.

RD: Esse modelo de cooperativa ainda vale?
Valle: O cooperativismo tem uma essência que é o equilíbrio entre a questão econômica aplicada no social. Não é uma empresa de capital, mas de pessoas que prestam serviços. O cooperado se abastece e o que sobra (lucro) volta para a própria comunidade (R$ 300 mil ano para entidades assistenciais). Sobrou do resultado, a gente devolve para o cooperado em forma de descontos nos produtos. Investimentos na comunidade aumentando o numero de lojas, novas drogarias e novos postos, gerando emprego e renda.

RD: Qual é a expectativa de fechamento deste ano?
Valle: 2% fora a inflação. A previsão era 4,5%. Nós tínhamos a expectativa que 2015 fosse um ano de ajustes. E para preservar a rentabilidade, assunto que iniciamos no fim de 2013, reduzimos 5% efetivo (280 pessoas) e 10% (despesas de marketing, manutenção, TI, consultorias). Atuamos para nos preparar para 2015. Como a situação piorou antes, nós antecipamos. As vendas não estão no patamar que projetamos, mas as vendas estão em um bom patamar ( 3,7% de crescimento real).

RD: E o Natal como será?
Valle: Deve ser o pior dos últimos 10 anos. Bem magro. Normalmente crescemos 15% a 20% em relação a um mês normal. Neste ano se crescermos 10% será muito bom.

RD: Qual a projeção para 2015?
Valle: 1 a 2% de crescimento real. Será um ano muito difícil. O consumidor não está disposto a consumir. As pessoas compraram carro, mobiliaram a casa e fizeram o que tinha de ser feito com o crédito nos últimos anos. Neste cenário de incerteza, ela retrai. A linha divisória é a eleição e o início do próximo governo. A hora que isso estiver claro, aí vamos conseguir nos programar.

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