Sabesp descarta racionamento no ABC

ETA do Semasa é responsável pelo abastecimento em Sto. André. Foto: Semasa/Divulgação

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) garante que nenhum município sob sua responsabilidade está sob racionamento. No ABC, das sete cidades, quatro são abastecidas pela Sabesp: São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

“A Sabesp atende diretamente 364 municípios em todo o Estado de São Paulo e nenhum deles está sob racionamento mesmo com a maior seca enfrentada nos últimos 84 anos”, informa a companhia por meio de nota.

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Segundo o texto, várias medidas foram adotadas para garantir o abastecimento dessas cidades. “Em 1º de fevereiro, foi criado o programa de bônus: clientes que economizam 20% no consumo ganham 30% de desconto no valor da conta. Teve uma adesão de cerca de 76% da população. Além disso, teve o uso de 182,5 bilhões de litros de água da reserva técnica das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha, que compõem o Sistema Cantareira, desde 15 de maio. Caso seja necessário, a Sabesp poderá utilizar mais 106 bilhões de litros de uma segunda cota”, sustenta a nota.

A companhia estatal cita, ainda, ações como a transferência de vazões dos sistemas Alto Tietê, Guarapiranga, Rio Claro e Rio Grande para atender áreas que são originalmente abastecidas pelo Cantareira.

Desde o começo do ano, o contingente populacional atendido pelo Sistema Cantareira foi reduzido de 8,8 milhões de pessoas para 6,5 milhões e cairá para 6 milhões até o fim deste ano.

Rodízio
Desde o início de outubro, foi divulgado pela Sama (Saneamento Básico de Mauá) um cronograma que prevê o revezamento no abastecimento de água nos bairros da cidade. Por meio de nota, a empresa de abastecimento de Mauá informa que “de acordo com a intensa crise hídrica que afeta a cidade, a Prefeitura em conjunto com a SAMA cria o Projeto Revezamento de Abastecimento. Nos bairros indicados há interrupção de abastecimento durante o dia. Se a falta de chuva permanecer, o revezamento também deve permanecer por tempo indeterminado”.

Santo André estuda adotar medida

Conforme antecipado pelo RD, o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) estuda a possibilidade de adotar oficialmente o racionamento de água na cidade caso a falta de chuvas persista. Seria, portanto a segunda cidade do ABC a implantar o rodízio, depois de Mauá.

Um dos sistemas que abastece Santo André é o Alto Tietê, que está com nível preocupante: apenas 9,9% da capacidade. “Se a gente tiver problema de falta dágua, obviamente nós vamos adotar rodízio. Não podemos beneficiar só uma parte da cidade e a outra não. Acho que o rodízio é a forma mais democrática de todo mundo ter acesso à água”, explica o superintendente do Semasa, Sebastião Ney Vaz Junior. “Agora depende da chuva”, completa o executivo.

Apesar de o racionamento, por enquanto, não ter sido adotado oficialmente em Santo André, o problema da falta d´agua é bem conhecido de alguns bairros da cidade. O Semasa reconhece o fato, que se intensifica nos horários de maior consumo. “Os reservatórios estão cheios de manhã e vão esvaziando na medida em que essa água vai sendo consumida.

A Sabesp só vai mandar água pra gente no final do dia de novo. Então esse período de demanda grande muita gente fica sem água”, afirma Ney.

Até o fechamento desta matéria, o DAE (Departamento de Água e Esgoto de São Caetano) não havia se posicionado sobre o assunto.

Urbanista adverte que crise poderia ser menor

Arquiteto e urbanista, especialista em planejamento ambiental, Renato Tagnin avalia que a atual crise hídrica do Estado de São Paulo não poderia ser evitada, mas tinha condição de ser amenizada. “Para isso precisaríamos adotar medidas como a mudança de padrão de uso do solo, que hoje é desmatar, remover a terra e avançar sobre os cursos d’água. É como se desse uma surra na mãe água e em todos os filhos dela. Normalmente se fala só em fazer obras, mas elas não são a solução. É preciso mudar hábitos e culturais”, disse.

Segundo o urbanista, a mentalidade dos gestores públicos focam apenas o hoje, e esquecem do planejamento a médio e longo prazo. “Só fazemos a curto prazo. O planejamento estadual morreu quando sobreveio o dogma do mercado. Morrendo essa visão de se antecipar aos problemas, tudo vai nos surpreender. Alguém projetou o rodoanel que agrava o problema dos mananciais e não resolveu o problema do trânsito. É uma mentalidade atrasada do instantâneo que serve só para miojo”, alfineta.

Povo sofre com falta d´água

Rubens Gonçalves, proprietário de um restaurante na Vila Guarani, em Santo André, afirma que a água só vem de madrugada. “Das 5h até às 20h as torneiras ficam secas. No sábado tive que fechar mais cedo porque faltou água na sexta e no sábado não tinha voltado ainda”, contou. Há três meses que o racionamento vem interferindo na vida e no bolso do comerciante. “Não tem água e a conta só aumenta”, afirma.

A doméstica Sônia Tesser, moradora do bairro Centreville, em Santo André, afirma que a água que abastece as torneiras tem cor branca. “Quase toda tarde, quando não falta água, ela vem branca, como se tivesse sido misturada com cloro”, declara a doméstica.

Já na cidade de Mauá, no Parque Marajoara, a moradora Andreia de Moraes alega que as vezes falta água. “Só de sábado e domingo não tem água, a partir das 9h, mas de noite já volta”, afirma.

Na Vila Bocaína, também em Mauá, o racionamento acontece quase toda tarde, e a água volta apenas de madrugada. “Tem dias que a água acaba de tarde e ficamos até o outro dia sem”, afirma a assistente comercial Loid Santos, moradora do bairro.

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