Segurança é calcanhar de Aquiles dos candidatos

Recomendação é que haja maior interação na segurança entre as três esferas do governo. Foto: Rodrigo Lima

O tema segurança pública passou a saúde e se transformou, nos últimos tempos, ao lado de mobilidade urbana, o calcanhar de Aquiles dos gestores públicos. Na época de campanha, todos os candidatos se lembram da temática. Passada a eleição, as plataformas dão espaço a uma sucessão de desculpas e justificativas.

A segurança pública é responsabilidade do governo estadual, porém, os outros entes federativos – prefeituras e União – podem e devem ter o compromisso de compartilhar a gestão.

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Sidnei de Almeida, coronel reformado da PM, amenta que, infelizmente, não é isso o que se vê. “Temos sempre uma disputa política que impera sobre o assunto”, destaca o coronel reformado da PM, que chefiou a polícia regional e também foi comandante geral em 1993, na gestão do ex-governador Fleury. “É preciso uma interação maior entre os governos. Não basta promessas ou aumentar o número de policiais e equipamentos de segurança, é preciso aumentar o envolvimento de todos”, lembra.

Aumento do efetivo

O Consórcio Intermunicipal do ABC, entidade que reúne os sete prefeitos da região, foi palco de reunião em meados de 2013, com o secretário estadual de Segurança, Fernando Grella, que, na oportunidade, prometeu aumentar o efetivo na região. Na ocasião, os prefeitos solicitaram aumento do efetivo em 500 policiais militares e 300 policiais civis, o que permitiria o funcionamento dos distritos policiais à noite e nos fins de semana.

“Vamos comprar 20 viaturas e fazer concurso para aumentar o efetivo da GCM. A segurança pública é de responsabilidade do Estado; falta contingente, mas infelizmente o governo estadual não manda”, afirmou à época o prefeito andreense Carlos Grana (PT). “Pedi para aumentar o efetivo, mas não aumentou. O déficit de policiais é péssimo para a região”, disse Carlos Grana. 

O prefeito de Mauá, Donisete Braga (PT), também reclama da promessa não cumprida por Fernando Grella. “O déficit em nossa cidade varia entre 80 e 100 policiais militares. Hoje a sensação de insegurança está em qualquer canto do Estado”, afirmou o petista. Para Saulo Benevides, prefeito de Ribeirão Pires (PMDB), é preciso o Estado tomar iniciativas. “A impressão que dá é de que a polícia está ausente nas ruas e isso traz insegurança para a população”, comenta.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública informa que, em todo o Estado, existem 2,9 mil novos PMs nas ruas desde o início do ano. “Dentro deste efetivo, o ABCD foi contemplado, como disse o secretário Fernando Grella em reunião com os prefeitos. A questão da sensação de insegurança é real. Uma das maneiras de reduzir esta percepção é, além de reduzir mais os indicadores de crimes violentos, como o roubo, aumentar a presença policial nas cidades”, informa a nota.

ABC registrou mais violência em julho

Os casos de roubos no ABC continuam a crescer. Desta vez, puxado por Santo André, o número de ocorrências ultrapassou 60% de aumento. Foram 487 casos em julho do ano passado, e 795 no último mês. Rio Grande da Serra, Mauá, São Bernardo e Diadema seguem a lista de aumento. Outra ocorrência que cresceu em Santo André foi o furto, de 585 os números saltaram para 658.

Em Mauá, o número de roubos aumentou quase 50% também em julho. Outro tipo de caso que cresceu foi o de roubo de veículos (16%) e o de homicídios, que passou de dois para cinco casos. Em Rio Grande da Serra, o número que era de apenas seis em julho de 2013, passou para 11 em 2014. O número de roubos de veículo também aumentou no município.

De dois para cinco

Em São Bernardo, o número de roubos também cresceu. O aumento foi de quase 40%. Foram 453 ocorrências em julho de 2013 e 620 no mesmo mês em 2014. No município, o número de estupros dobrou: passou de três para seis. Os números positivos de São Bernardo a se destacar são a diminuição de quase 80% dos casos de estupro e de mais de 30% de furtos.

Já em Diadema, o destaque negativo fica por conta do aumento do tráfico de entorpecentes (quase 50%). O número de roubos e furtos também cresceu 12% e 6,5%, respectivamente. Já homicídios e estupros tiveram números melhores que os de julho do ano passado. Ambos diminuíram suas ocorrências em 28% no município.

São Caetano teve aumentos de furtos e furtos de veículo (50% e 37%, respectivamente). O destaque positivo do município foi de roubos de veículos, com diminuição de 40%. Em Ribeirão Pires, os números se mantiveram regulares, exceto as ocorrências de estupros, que passaram de dois em julho de 2013 para seis neste último mês.

Tema pautou primeiro debate entre políticos

O primeiro debate eleitoral, dia 25 de agosto, que contou com a presença de todos os candidatos ao governo do Estado, foi realizado pelo SBT em parceria com a Rádio Joven Pan, o jornal Folha de São Paulo e o Uol. No encontro, a segurança entrou em pauta. No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas feitas por jornalistas, o que fez esquentar o clima.

Geraldo Alckmin foi questionado se sancionará a lei, aprovada pela Assembleia Legislativa, que proíbe o uso de máscaras em manifestações. “Somos contrários a qualquer tipo de máscara”, afirmou Alckmin. “Uma coisa é manifestação, outra é violência, é baderna, e a polícia de São Paulo é firme sobre isso”, disse o candidato e governador.

Ao comentar a resposta, Paulo Skaf disse que o governador não explicou por que, passados dois meses, não sancionou a lei. “Eu sancionaria na hora”, afirmou. Alckmin rebateu – “Deixei claríssimo que a lei será sancionada” – e emendou uma crítica ao adversário do PMDB e ao seu partido. “O candidato Skaf fala muito sobre segurança pública. É bom lembrar que assumimos o governo vindo do partido dele”, disse. “Na época do Fleury a polícia não tinha dinheiro para gasolina e o índice de homicídios era 30 [casos] por 100 mil [habitantes]. Hoje são 10 casos por 100 mil”, respondeu.

Na pergunta seguinte, Skaf começou sua resposta retrucando o tucano. “Eu gostaria de dizer ao Alckmin que o maior índice de homicídio foi no tempo em que ele era vice-governador do [Mário] Covas”, afirmou. O comentário ficou a cargo de Padilha, que também se voltou contra Alckmin e à alta nos crimes contra o patrimônio. “Eu criei o programa Mais Médicos e o governador criou o Mais Roubos”, comparou.

Promessas de ação voltam aos palanques

Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) prometeu nesta quarta-feira (27) dobrar as atuais 500 câmeras de segurança que servem ao Detecta, sistema de monitoramento criminal, após visita ao CICCR (Centro Integrado de Comando e Controle Regional), na região da Luz, na Capital. Em eventual próximo mandato, o tucano ampliaria a cobertura, hoje concentrada na Capital, para o Interior e regiões metropolitanas.

Alckmin assinou decreto que determina integração ao Detecta de todos os órgãos do governo paulista e, também, permite que haja convênio para adesão pela iniciativa privada, departamentos municipais e da União. O compartilhamento seria de imagens dos circuitos das entidades e informações que possam indicar comportamentos suspeitos em áreas públicas.

O funcionamento do sistema é de forma ampliada, porque passou a trabalhar com dados do canal de emergência por telefone 190. “Hoje há 500 câmeras. Nossa proposta é dobrar para mais de mil só do governo. Agora, no setor privado, há infinidade de possibilidades, podemos ter 4 mil, 10 mil aparelhos operando. Temos 500 câmeras que integram Detrans, rodovias, CET [Companhia de Engenharia de Tráfego]. Nova York possui 6 mil e 60% não são do governo, são do sistema privado. Vai ajudar no combate ao crime organizado”, comparou o governador.

O Palácio dos Bandeirantes investe R$ 17 milhões, entre softwares, equipamentos e mão de obra, para implantação do Detecta. O desenvolvimento é da Microsoft e reproduz modelo utilizado na cidade de Nova York. Com a integração de informações das polícias Civil e Militar, além dos outros departamentos do governo, o sistema é capaz de acionar automaticamente 850 tipos de alarmes que reconhecem atividades criminais ou suspeitas.

Candidato do PT ao governo paulista, o ex-ministro Alexandre Padilha tem usado experiências que conheceu nos Estados Unidos para embasar o programa de governo para o Estado. Em abril, o petista passou cerca de 10 dias naquele país e aproveitou para conhecer iniciativas em cidades, como Chicago e Nova York. Quando fala de segurança pública, Padilha cita o exemplo dos centros de controle integrado que visitou nas duas cidades. Neles, são aproveitadas as imagens de monitoramento de serviços públicos e privados para garantir a segurança pública.

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