Risco de tarifaço em 2015 não saiu do radar

Descartado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o risco de tarifaço em 2015 ainda não saiu do radar. O ajuste nas tarifas de serviços que têm preços regulados pelo governo, como energia elétrica, combustíveis e transporte, já começou em 2014, mas o ritmo ainda está aquém do ideal e a avaliação é de que falta muita correção até dezembro e, sobretudo, até o fim do próximo ano.

Enquanto o Banco Central espera uma alta de 6% dos preços administrados, estimativas do setor privado apontam que o desmonte da política de represamento de preços adotada pela presidente Dilma Rousseff exigirá um reajuste médio de 12,64% nas tarifas no próximo ano. Essa recomposição de preços, se for dada na totalidade, poderá resultar em um aumento adicional de 3 pontos porcentuais no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015, colocando em risco o cumprimento da meta de inflação no primeiro ano do próximo governo.

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“Não importa quem seja o governo, ninguém vai promover um tratamento de choque dessa magnitude”, ponderou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. “Não vejo um ajuste dessa magnitude. Implicaria em uma forte contração dos preços livres e se traduziria em forte aumento do desemprego”, argumentou.

Mercado e governo têm projeções para o comportamento dos preços monitorados no próximo ano, mas os agentes avaliam que essas estimativas podem mudar, pois o cenário é bastante incerto. Os reajustes de energia, combustíveis, água e esgoto e transporte público podem ter correção menor que o esperado em função do apelo popular que uma alta forte nesses itens poderia causar e do risco de estouro da meta de inflação no primeiro ano do próximo governo.

“O ajuste que o governo der não fará frente a todo o represamento que foi feito, mas já é pelo menos uma sinalização de que de fato vai ocorrer um ajuste para colocar os preços administrados mais em linha com os preços livres”, disse o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno. Para ele, no entanto, a correção total deve demorar entre dois e três anos para se concretizar.

Cálculos feitos pela SulAmérica Investimentos, considerando a defasagem de preços dos últimos anos, indicam a necessidade de um reajuste de 20% na gasolina, que hoje é comprada pela Petrobras no exterior por um valor superior ao de revenda no mercado doméstico. No caso das tarifas de ônibus, que não subiram em resposta às manifestações populares do ano passado, a defasagem é de 18%.

O maior represamento, no entanto, está concentrado em um dos serviços com maior peso no IPCA: a energia elétrica, que responde por 14% do cálculo de correção dos preços monitorados. Pelo levantamento, a conta de luz precisará subir 27,5% para recompor o custo adicional provocado pela falta de chuvas e alto uso de termelétricas.

Outros itens também têm necessidade elevada de ajuste. O seguro saúde teria de subir 8,6%; medicamentos, 5,5%; e demais preços, 6,2%. Apenas telefonia fixa não precisaria de mudança. Apesar de ter feito esse exercício, a SulAmérica projeta que o governo não fará a recomposição integral dos preços e dará uma correção menor (em relação a estimativa de defasagem média de 12,64% nas tarifas), de 7,02% – previsão próxima da mediana das expectativas do mercado para 2015, de 6,90%, de acordo com o último boletim Focus divulgado pelo BC. “O tarifaço pode estar na cabeça do mercado, mas (ainda) não está em seus números, nem nos do BC”, observou o economista-chefe da Tullett Prebon Corretora, Fernando Montero.

Para a equipe econômica, o ajuste já começou em 2014 e está se acelerando. Os dados do IPCA, entretanto, mostram que esse movimento é mais gradual do que a equipe econômica quer fazer crer. A alta dos preços administrados acumulada em 12 meses, até julho, é de 4,63%; ante 1,31% em igual mês de 2013, no pico do represamento feito pelo governo para evitar um aumento maior da inflação.

Esse valor de 4,63% ainda está cerca de 8 pontos porcentuais inferior ao que seria necessário para recolocar os administrados no lugar. Até o fim deste ano vai pesar, sobretudo, o reajuste de energia. Enquanto o BC calcula uma alta de 14% em 2014, o IPCA até julho mostra um crescimento de 9,73%, indicando que há expectativa de forte correção no segundo semestre.

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