Motociclistas reivindicam corredor exclusivo

Nos acidentes, lesões graves dos membros e traumatismos cranianos são muito comuns. Foto: Évora Meira

Adrenalina e velocidade sob duas rodas era o sonho do jovem Márcio Masola, que comprou a primeira moto, em 1987. À época, correr sem se preocupar com riscos era natural. Porém, após sofrer acidentes tudo mudou. Hoje, o gerente comercial, pilota com cautela e segue à risca as leis de trânsito. Mas, nem todos seguem seu exemplo. Em 2012, ocorreram 12.544 mortes de motociclistas no Brasil, 9,22% superior a 2012, conforme Ministério da Saúde. Revisão no ensino para habilitação e criação de via exclusiva são algumas das saídas, segundo especialistas.

Diante das estatísticas, não há o que se comemorar neste 27 de julho, Dia do Motociclista. Levantamento feito pelo RD na região indica cenário preocupante em quatro cidades (três não responderam). Em São Bernardo, o número de acidentes com motos foi de 1.436 em 2013, e metade das vítimas eram motociclistas. Na comparação com 2012, houve queda de 24% do total de acidentes. Já as mortes causadas por acidentes com moto foram de 6 em 2013 e de 11 em 2012,

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Em Santo André, o número de acidentes com envolvimento de motocicletas foi de 1.901 em 2013 contra 2.041 em 2012, queda de 7%. Foram 23 mortes em 2013 e 21 em 2012. No primeiro semestre deste ano, foram registrados 681 acidentes com motos contra 772 em igual período de 2013, redução de 12%.

Em Mauá, foram 570 acidentes com motos com uma morte em 2013, conforme 30º Batalhão da PM. A administração não possui dados conclusivos de 2012. Já no primeiro semestre deste ano foram 241 acidentes, com duas mortes, contra 319 de 2013, queda de 24,45%. Em São Caetano, ocorreram 111 acidentes com motos em 2013 e uma morte. Já em 2012 foram 127 acidentes e duas mortes. No primeiro semestre deste ano, os acidentes somaram 57, sem mortes contra 62 (-8%) no mesmo período do ano passado, com uma morte.

Dirceu Rodrigues Alves, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), diz que os motociclistas se aventuram no trânsito, cometem imprudência, negligência e imperícia, e que não há fiscalização que gere multa. A situação seria diferente se houvesse separação de veículos leves (motos) e pesados nas vias, além de formação e treinamentos eficazes nas autoescolas, inclusive com simulação de adversidades enfrentadas no dia a dia, campanhas e ações efetivas de orientações aos motociclistas para conduzir melhor e respeitar o Código Brasileiro de Trânsito. Alves conta que nos acidentes, são comuns lesões graves dos membros inferiores e superiores (fraturas expostas), bem como traumatismos cranianos, mesmo com uso de capacete. Politraumatismos no tórax, abdome e hemorragias internas também são rotineiros na categoria.

O instrutor, Carlos Amaral, palestrante de técnicas defensivas de pilotagem de motos, inclusive em moto clubes e empresas do ABC, afirma que 90% dos acidentes ocorrem por imprudência e as aulas de habilitação são insuficientes para que os alunos pilotem motos com segurança. “Falta boa vontade em ensinar. As instruções oficiais de pilotagem são voltadas apenas para que os futuros motociclistas obtenham a carteira. A maioria sai desses locais sem saber se defender no trânsito. Alguns nem sabem usar freios”, critica.

Categoria pede atenção das prefeituras

A região possui cerca de 90 mil motociclistas, segundo o Sindicato dos Motoboys do ABC. A maior reivindicação da entidade é um corredor exclusivo para as motos. Segundo o vice-presidente do Sindicato, Mauricio Leme Nogueira, o Manteiga, a medida não resolveria o problema de acidentes, mas poderia diminuir a imprudência no trânsito. “Não é difícil fazer, basta querer. Já tentei diversas conversas com as prefeituras, mas não obtive êxito”, diz. Em fevereiro, o sindicato contatou as sete cidades para solicitar providências e apresentar ideias, mas apenas Diadema respondeu e, mesmo assim, nada saiu do papel. A proposta do sindicato é colocar todas as motos usadas como instrumento de trabalho com placa vermelha, e as demais com placa cinza. Para Manteiga, isso coloca os motociclistas um pouco mais dentro da lei. “Diadema me deu prazo de 60 dias para responder, mas nada até agora. Hoje o motoboy é tratado como bandido, mas temos que mudar isso”, reclama.

Greve
Outra queixa é o descumprimento da lei 12.009, de 29 de julho de 2009, que obrigada o motociclista com mais de 21 anos e aprovado no curso especializado nos termos da regulamentação do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), estar vestido com colete de segurança dotado de dispositivos retrorrefletivos e, ainda, possuir habilitação por pelo menos dois anos na categoria. Para Manteiga menos de 1% dos motociclistas estão regulamentados. “Infelizmente o motoboy tem de voltar para escola. As empresas deveriam ensiná-los a trabalhar, aliás, 70% das empresas não enxergam motoboy como profissão”, afirma Manteiga, que não descarta greve da categoria se a situação continuar e as prefeituras não responderem aos pedidos do sindicato. “Tenho muitos sindicatos que me apoiam. Caso continuar a não ter retorno, eu consigo colocar 500 pessoas nas ruas e paro o ABC”, diz.

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