No Rio, aluguel alto obriga fechamento de loja da Manon

O charmoso imóvel em art-nouveau, na esquina das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana, no centro do Rio, já não abriga a tradicional Confeitaria Manon. A loja funcionava no mesmo prédio que, no passado, abrigou a também tradicional confeitaria Cavé, e foi fechada na segunda-feira porque os proprietários não conseguiriam arcar com o novo valor do aluguel, que saltou de R$ 20 mil para R$ 40 mil.

Há cinco anos, Fabíula Lopez, de 45 anos, e os dois sócios tentaram comprar o imóvel. As negociações fracassaram e o proprietário apresentou a proposta para dobrar o valor do aluguel. Após mais de um ano de conversas, os empresários se viram obrigados a devolver a loja, que tinha faturamento mensal de R$ 120 mil e 30 funcionários para servir café da manhã e o chá da tarde.

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“Quem saiu perdendo foi o Rio. Agora, o ponto está deserto”, afirmou Fabíula, ressaltando que houve redução de clientes nas lojas ao redor. “A nossa confeitaria era um brinquinho, uma coisa delicada no meio daquela confusão de camelôs”.

Em 2004, Fabíula e os sócios assinaram o contrato para abrir a Confeitaria Manon na rua Sete de Setembro. Construído em 1890, o imóvel foi tombado em 1987 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) com o nome de Casa Cavé e precisou de reformas estruturais. A Manon foi aberta no início de 2007, após os empresários gastaram R$ 1,2 milhão para restaurar a fachada, o interior e os imóveis, e manter as características originais.

Ao sair da loja, deixaram mesas, cadeiras e balcões restaurados e as réplicas dos lustres. Tudo pertence ao patrimônio cultural da cidade. Somente a louça pôde ser retirada. “Reformamos o imóvel todo e tivemos que sair. Isso desanima outras pessoas que fazem esse tipo de restauração”, opinou Fabíola.

Nas paredes, há placas de figuras importantes como o imperador Pedro II, a cantora Chiquinha Gonzaga e o ex-presidente Juscelino Kubitschek que frequentavam os salões de chá com espaço para cem pessoas. Era comum degustarem o tradicional madrileño (pão doce, com creme e uma ponta de goiabada) e o famoso pastel de Belém da Manon.

Na manhã desta quarta-feira, 23, os clientes que passavam pela rua Sete de Setembro estavam perplexos com o fechamento da loja. “Com tradição e bom atendimento, a Manon conquistou um público fiel que agora está órfão”, avaliou o gerente José Aldo de Souza, de 54. Cabia a ele indicar a outra unidade da confeitaria, na Rua do Ouvidor, a 180 metros.

“Levei um susto. A Manon é muito tradicional e não podia fechar assim”, disse Fátima Cuneo, de 60, frequentadora há 30 anos. Ela planejava almoçar bobó de camarão e comer madrileño na sobremesa com a mãe Maria Luiza Corrêa, de 84. “Fiquei aliviada em saber que, pelo menos, teremos a loja da Ouvidor”.

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