Gravidez precoce tem maior incidência em Mauá e Diadema

Índice de jovens gestantes é preocupante na escola pública. Foto: Évora Meira

O número de jovens grávidas, de 10 a 19 anos, está em queda no Brasil. Os índices passaram de 673.045, em 2003, para 536.363 em 2012, conforme Ministério da Saúde. O cenário é de redução também no ABC, segundo o Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano (Inpes/USCS). No período, o percentual de mães com menos de 15 anos caiu de 0,41% para 0,40% em São Bernardo,de 0,34% para 0,30% em Santo André, de 0,48% para 0,07% em São Caetano, de 0,06% para 0,05% em Ribeirão Pires e de 0,69% para 0,51% em Rio Grande da Serra. Houve alta, porém, em Diadema – de 0,62% para 0,65%- e, em Mauá – de 0,62% para 0,77%. Ainda em Mauá, o número de partos de jovens, de 10 a 19 anos, saltou para 453 no primeiro semestre deste ano, alta de 8% em relação aos primeiros seis meses de 2013, segundo o próprio município.

Em São Bernardo, o número de gestantes, com menos de 20 anos, se mantém estável desde 2011, com cerca de 1,3 mil casos por ano, de acordo com a Secretaria de Saúde. A maioria das jovens tem baixo poder aquisitivo, defasagem nos estudos, não conta com apoio da família e os parceiros não acompanham as consultas médicas. Entre os fatores que levam à gestação precoce estão à vulnerabilidade social, pois nas áreas mais pobres a gravidez é vista por muitas adolescentes como chance de mudar o status social, além da falta de diálogo familiar e abordagem do tema nas escolas.

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O economista, Leandro Prearo, gestor do Inpes, explica que a gravidez precoce está relacionada às condições socioeconômicas e culturais, e que as mulheres, em municípios desenvolvidos, deixam para ter filhos mais tarde em função da carreira profissional e estudos. Nos municípios menos desenvolvidos, onde há bolsões de miséria, as jovens, com baixa escolaridade, sem acesso às informações e métodos contraceptivos, acabam não tendo perspectivas em relação ao futuro e nem ao mercado de trabalho e, com isso, acabam tendo filhos indesejados ou planejados.

Para o professor Paulo Bessa, titular de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, apesar da queda do número de gestantes jovens, o índice de meninas grávidas nas escolas públicas ainda é significativo. Diz que a gravidez na juventude pode ser causada pela maneira de pensar do adolescente. “Muitos jovens têm a impressão de onipotência, de que podem resolver tudo e que os problemas não os atingirão”, comenta.

Água abaixo

O professor ressalta a importância da informação aos jovens, porém acredita que apenas campanhas de conscientização não resolvem o problema. “Somente informação não muda comportamento”, afirma. Em termos psicológicos, Bessa diz que a adolescente pode não dar conta da magnitude do fato, pois ainda não está pronta para ser adulta, e que a responsabilidade de criar um filho demanda atenção, o que pode prejudicar os estudos. “Um filho acaba mudando o rumo da vida do jovem. Todos os planos de vida podem ir por água abaixo com uma gravidez inesperada”, afirma.

A estudante, Pamela, de São Bernardo, engravidou aos 15 anos. A filha, Júlia, nasceu em junho deste ano. Em fase de adaptação, a jovem mãe, diz que, apesar da idade, queria engravidar, mas que a mãe foi contra no começo e que teve de esconder a notícia do pai, até que a barriga aparecesse. Pamela afirma que sua vida mudou. Antes ficava mais tempo na rua e, agora, passou a ficar em casa para cuidar do bebê. Além disso, parou de estudar, mas pretende fazer supletivo para concluir o ensino médio no ano que vem e trabalhar para sustentar a filha. O namorado, de 24 anos, assumiu a paternidade.

Santo André promove visita a hospital

Em Santo André, o número de jovens grávidas, de 10 a 14 anos, passou de 79, em 2009, para 64 em 2013, queda de 19%; e de 15 a 19 anos, passou de 1.029 para 919, retração de 10,68% no mesmo período. Somente no ano passado, foram 369 partos de mulheres com menos de 18 anos no Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein. A casa recebeu nesta quinta (17) visita supervisionada de um grupo de pacientes gestantes, com menos de 18 anos.

Entre as visitantes estava a estudante andreense de 17 anos, Amália. Com a gestação não planejada, a jovem não aceitou o fato nos primeiros cinco meses. Mas, com apoio da mãe, conseguiu superar o momento difícil. Hoje, acompanhada pelo namorado e futuro pai do bebê, Gustavo, de 18 anos, a jovem passa por consultas médicas para que tudo dê certo na gravidez de oito meses. A estudante já planeja se casar no próximo ano e cursar faculdade. “Minha mãe vai me ajudar a cuidar da criança”, explica.

O número de jovens grávidas atendidas no ambulatório pré-natal no programa da rede básica de saúde, que funciona no Centro de Saúde escola, foi de 56 no primeiro semestre de 2014. Nove já tiveram filhos. De acordo com o ginecologista e obstetra, Gustavo Joseph Camargo, coordenador do ambulatório pré-natal para adolescentes, o risco para as jovens grávidas é social, com abandonodo colégio, sem acesso à faculdade e estudos e, ainda, o parceiro ser submetido ao subemprego. Outro risco para as futuras mães jovens demais é o bebê nascer com baixo peso.

Política pública é essencial

A socióloga Silmara Conchão, professora do Departamento de Saúde Coletiva e coordenadora de extensão da Faculdade de Medicina do ABC, diz que as mulheres estão tendo relações sexuais cada vez mais cedo. Diz que onde há políticas públicas nas áreas de saúde, educação e inclusão social, o número de jovens grávidas é menor. “É preciso que haja trabalho de atenção voltada para os jovens das comunidades, que por falta de autoestima em termos de escolaridade e oportunidade de trabalho, se sentem excluídas e com menos chances de se prevenir contra a gravidez”, explica. 

Silmara lamenta que o sexo ainda seja tabu na sociedade, e que até agentes de saúde e profissionais da área têm dificuldades para lidar com a questão. “A Igreja mantém tendências conservadoras sobre sexo, a família coloca o assunto embaixo do “tapete” e a escola só informa os alunos sobre órgãos genitais”, critica.

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