ABC investe na conscientização para economizar água

Desde fevereiro, quando os reservatórios do sistema Cantareira começaram a registrar os menores índices da história, se iniciou uma corrida para que as cidades reduzissem o consumo na mesma proporção para evitar o racionamento, descartado seguidas vezes pelo governador Geraldo Alckmin e outros políticos.

São Caetano apresenta o melhor resultado até agora. A cidade conseguiu reduzir o consumo de água em 18%, aproximadamente 100 litros por segundo – o equivalente a quase cinco galões. O município é abastecido 100% pelo sistema Cantareira, cuja capacidade tem atingido recordes negativos diariamente.

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Para o chefe da divisão técnica do DAE (Departamento de Água e Esgoto), de São Caetano, Osmar Silva Filho, a melhora se deve ao resultado das campanhas de conscientização feitas desde fevereiro. “Nós intensificamos as mensagens em faixas, outdoors e placas espalhadas pela cidade. A meta é chegar a 20% na diminuição do consumo residencial”, explica.

O índice, segundo o executivo do DAE, deve ser alcançado até o final de março. Para diminuir ainda mais o consumo desnecessário, a autarquia aplicou pequena redução na pressão da água enviada aos clientes.

Outra medida adotada foi a intensificação das ações para detecção de vazamentos, o que diminuiria a perda dágua no percurso entre os reservatórios e os consumidores finais.

Atualmente, cerca de 24% da água distribuída pelo DAE no município não são contabilizados. Isso se deve a rompimentos em tubulações ou fraudes no sistema. “Nossa meta é diminuir esse índice para 15% até o fim de 2016”, diz.

O DAE também aproveita mês de março para ampliar as campanhas educativas nas escolas públicas e particulares. “Todos os anos fazemos a Semana da Água. Este ano vamos intensificar a ação”, avisa.

Mauá

Segundo o superintendente da SAMA (Saneamento Básico do Município de Mauá), Átila Jacomussi, as campanhas educativas com faixas e materiais específicos na cidade fizeram reduzir o consumo ser reduzido dois dígitos, em média.

Mauá não é atendido pelo sistema Cantareira. “Mas, mesmo assim, também entramos na campanha para reduzir o consumo que hoje já varia de 8% a 12% a menos”, explica. O objetivo, segundo Jacomussi, é intensificar a campanha educativa nos bairros e escolas para alcançar o índice de 15%.

O superintendente diz que tem feito gestão junto à Sabesp para resolver o problema judicial que existe entre as duas partes. Atualmente, endividados com ação judicial. A SAMA questiona o valor cobrado pela Sabesp referente à dívida e a estatal, por sua vez, quer o montante que, segundo ela, é devido. A Sabesp cobra quase R$ 2 bilhões de Mauá. Já a Sama alega que a dívida é de quase um quarto do valor. “Institucionalmente temos feito boas conversas. Estive recentemente com a Dilma Pena, superintendente da Sabesp, e vou estar com ela novamente nas próximas semanas”, destaca

Jacomussi afirma que é importante que a população esteja consciente de como usar racionalmente a água. “Esse é o dever de casa do cidadão. O nosso é fazer uma força tarefa para detecção e reparos de vazamentos no município, entre outras medidas técnicas”, diz o superintendente da SAMA, que desde o começo de fevereiro realiza a operação caça-vazamento.

Santo André dá desconto, e estuda ampliar debate

A Câmara de Santo André aprovou o projeto de lei de autoria do Executivo que propõe a redução de 30% no valor da conta dos clientes que diminuírem o consumo em 20%. Os descontos deverão vigorar entre março e maio, período com temperaturas mais altas e que costuma registrar gastos mais elevados.

O cálculo é feito sobre a média de consumo dos últimos seis meses. Essa média será calculada automaticamente e estará impressa na conta. O benefício valerá até 31 de maio e incidirá somente sobre o valor cobrado pelo consumo de água e esgoto e não sobre o valor total da conta de saneamento. O desconto é automático e independe de apresentação de requerimento. A concessão do desconto visa estimular a economia de água na cidade.

O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) é responsável por 6% do fornecimento de água na cidade, captada na represa do Pedroso e distribuída após tratamento na Estação de Tratamento Guarará. Os demais 94% são comprados da Sabesp. O abastecimento de Santo André é feito, também, pelos sistemas Cantareira e Alto Tietê. Os dois mananciais sofrem queda acentuada no nível de represamento, devido à falta de chuvas, forte calor e alto consumo, motivo da crise.

Mas segundo o superintendente da autarquia, Sebastião Ney Vaz Júnior, não adianta discutir a crise apenas quando ela já está em curso. “A população de Santo André sabe que há muito tempo nós alertamos que esse problema ocorreria e não só aqui na cidade. É preciso que todos os gestores discutam a água em todos os seus aspectos, principalmente a questão do custo, pois, do jeito que as coisas estão encaminhadas, cada vez mais o custo será elevado”, diz.

Perda é de 22% – Ney afirma que ainda não é possível aferir o quanto a cidade conseguiu reduzir no consumo, mas que as campanhas educativas e as ações já surtiram efeito. “Além disso, nós estamos atuando na redução da perda da água, ou seja, que não seja no consumidor final. Hoje o nosso índice é de 22%, um bom índice se comparado à média nacional, Porém, nós remontamos o comitê para reduzir esse índice até 2016 para 19%”, explica.

Para isso, são utilizados equipamentos inteligentes, campanhas educativas, troca e remanejamento das redes antigas e a medição nos núcleos de favela.

Quando o assunto é Sabesp, Ney Vaz afirma que uma das prioridades do Semasa é a formalização do contrato da água. “Falta um relacionamento mais próximo de ambos. Hoje a gente respeita praticamente um contrato verbal. Queremos estabelecer uma relação formal”, admite o executivo.

A Sabesp cobra uma dívida que, segundo Ney, não é reconhecida por Santo André. “A gente reconhece que tem uma diferença que a Sabesp cobra. Ela nos cobra R$ 1,43 pelo metro cúbico de água no atacado e nós pagamos R$ 0,43 por ele”, reclama o superintendente. Para chegar a um denominador comum, o Semasa contratou auditoria para identificar o valor real.

População muda rotina

Com medo de haver racionamento de água estimulou a população mudar alguns hábitos do dia-a-dia. O aposentado Paulo Pelegrini, de 74 anos, não sofre diretamente com a falta de água, mas resolveu se mexer. “Tomo menos banho, diminui as lavagens do carro e parei de lavar a calçada”, diz.

O vendedor autônomo João Luiz, 63 anos, diz que é preciso colaborar, porque um dia podemos ficar sem água. Por isso, fez até a família mudar de hábito. “O banho tem que ser cinco minutos, se passar já começo a gritar”, diz. “Economizar é fácil, o difícil é ficar sem água”, acredita.

Rafaela Marques, 16 anos, conta que não gasta água além do normal. “Sempre tomei banho muito demorado, agora tive de diminuir. A louça ensaboo primeiro, para depois enxaguar”, diz ao revelar, porém, que precisou receber bronca para economizar. “Minha sogra puxou minha orelha para parar. Alguém tinha de dar um jeito”, brinca a garota.

O porteiro Sidnei Salla, 36 anos, diz que está com a moto suja para economizar água. “Sofri com a falta de água, e sei o quanto é difícil. Não lavo mais calçada, nem a moto que está imunda”, afirma. Salla conta que já sentiu a diferença na conta. “Ganhei um desconto por economizar. Espero que o desconto continue para não gastar muito”, comenta.

Com 41 anos, Neusa Rodrigues sentiu na pele a falta de água. Outro dia, a bancária chegou na sua casa e não tinha água torneira. “Tive de pedir pizza”, comenta. Por isso, diz que faz tudo para economizar. “Uso água da máquina para lavar o quintal e ainda junto mais roupa para lavar. É o que dá para fazer”, revela.

“Aconselho os meus netos a não gastarem, pois têm de aprender desde pequenos”, acredita a dona de casa, Gainor Betes, 65 anos. “Lavar a louça não gasto muito, mas não lavo o quintal”, diz Gainor, que tenta conscientizar outras pessoas sobre a importância da água. “Com tanta gente sem água para beber, temos que fazer nossa parte”, ressalta.

Sistema de abastecimento

Na Região Metropolitana de São Paulo, o sistema de abastecimento é integrado: 8 complexos são responsáveis pela produção de 67 mil litros de água por segundo, para atender 33 municípios. Quatro municípios compram água por atacado: Santo André, São Caetano, Diadema e Mauá. Vejam de onde vem a água que abastece o ABC:

• Alto Tietê: Mauá e parte de Santo André
• Cantareira: São Caetano
• Ribeirão do Estiva: Rio Grande da Serra
• Rio Claro: Ribeirão Pires, Mauá e Santo André
• Rio Grande: Diadema, São Bernardo e parte de Santo André

Fique sabendo…

• O pinga-pinga da torneira ao longo de um ano desperdiça pelo menos 16 mil litros de água limpa e tratada, o que custa cerca de R$ 1,2 mil em sua conta de água.

• Se todos os brasileiros fecharem a torneira ao escovar os dentes, a água economizada durante um mês equivalerá a um dia e meio do volume de água que cai nas Cataratas do Iguaçu.

• A água que vaza por um orifício de 2mm num cano em um dia é equivalente à agua usada em uma lavagem de roupas na máquina de lavar.

• A instalação de aerador na torneira gera grande economia? Na cozinha de 12 apartamentos pouparia, num ano, água suficiente para encher uma piscina olímpica.

• Se cada brasileiro diminuísse 1 minuto o tempo de banho no chuveiro, a energia economizada em um ano equivaleria a 15 dias de operação da usina de Itaipu na geração máxima.
 

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