Fifa terá a chave de São Paulo para Copa no dia 14 de abril

Secretário José Auricchio Junior diz que o desafio na pauta esportiva é o financiamento / Foto: Rodrigo Lima

Todo o cronograma da Copa do Mundo segue à risca no território paulista para que no dia 14 de abril tudo esteja nas mãos da Fifa (Federação Internacional de Futebol) para testes. A afirmação é de José Auricchio Júnior, secretário estadual de Esportes. Auricchio conta que, por orientação do governador Geraldo Alckmin, não houve investimento do Palácio dos Bandeirantes para a construção do Itaquerão. Para o secretário, o grande legado que a Copa deixará será o ganho no sistema viário e na mobilidade, principalmente na Zona Leste de São Paulo.

Mesmo com o ABC fora da rota da lista de subsedes no Estado, José Auricchio Júnior acredita que a região pode se beneficiar se for trabalhado o turismo. Neste sentido, destaca que o desafio para a pauta esportiva é o financiamento. “Nenhum gestor vai tirar dinheiro da saúde e da educação para aplicar no esporte. A alternativa é a lei de incentivos”, aponta. 

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Repórter Diário – Qual a importância da Copa?

José Auricchio Jr. – A partir do momento que o Brasil se colocou na condição de sediar a Copa, obviamente o Estado de São Paulo tem de ter um papel diferenciado. Só caberia a abertura ou o encerramento da Copa. E ficou decidido por questões circunstanciais pela abertura. O Estado tem procurado fazer de tudo para ter a melhor abertura possível. Fazer uma Copa que possa valer a pena aos paulistas e aos brasileiros.

RD – Qual foi o investimento público?

Auricchio – Desde o primeiro momento, o governador Geraldo Alckmin tem batido na tecla que não quer nenhum real do dinheiro público investido em estrutura de estádio. E nós seguimos isso. O Itaquerão é privado, um legado do Corinthians. O que ficou determinado na matriz de investimentos é que toda a parte de mobilidade, segurança e investimentos no entorno, o Estado ficaria responsável compartilhando, dentro das necessidades, com a Prefeitura paulistana. Nosso investimento está focado em transporte sobre trilhos e modificações do viário na Zona Leste, embora outros investimentos também ocorram, como Fatec e Etec, ao lado do Itaquerão, que trazem polo de desenvolvimento e inovação tecnológica.

RD – Qual o investimento sobre trilhos?

Auricchio – Hoje, a CPTM e o Metrô atendem duplamente a recomendação da Fifa. Ela recomenda o transporte de 50 mil pessoas por hora e nós temos capacidade de transporte para 100 mil pessoas por hora. Pensando hipoteticamente na necessidade de esvaziar um estádio, em uma hora ele estaria vazio. Isso está além da expectativa. 

RD – E o viário?

Auricchio – A Zona Leste ganha muito com todas as intervenções viárias para a Copa.

RD – Tudo será concluído sem atraso?
Auricchio – Estádio, que não é de competência do Estado, nos cabe a fiscalização. Mesmo com o acidente que houve – com duas mortes – o cronograma está dentro do prazo. Vamos entregar dia 15 de abril. O Corinthians e a empresa têm tido um comportamento muito profissional e técnico. A Fifa terá condições de fazer as três datas teste, etc. Mais de 90 por cento da obra pronta. Existem também as estruturas temporárias. Hoje existe um consórcio, capitaneado com a Ambev, para fazer essa estrutura temporária que comportará mais 20 mil pessoas para chegar no número de assentos que a Fifa exige. Também isso será entregue no dia 15 de abril.

RD – E as obras de mobilidade?

Auricchio – Do que está fora, trilhos, praticamente prontos. Está em análise ainda da CPTM para ver se terá uma linha expressa que fará o trajeto Luz- Itaquera, mas isso é uma decisão técnica da CPTM. As obras viárias estão quase 80% executadas. Portanto, ficarão concluídas também até abril. Fatec entregue, Etec em fase de acabamento. Essas estruturas só serão utilizadas depois da Copa, pois estão cedidas à Fifa para acolher as delegações e equipes que vão acompanhar a Copa. Existe um relativo conforto no cronograma para o Estado de São Paulo. No dia 15 vamos entregar a chave de São Paulo para a Fifa.

RD – Qual o legado da Copa para São Paulo?

Auricchio – Existe um fator primordial que é a interligação para a Zona Leste de São Paulo, uma das mais carentes, que ganha em mobilidade, pois ganha o usuário do transporte daquela região. A região foi desenvolvida para morar longe do local de trabalho e hoje quem mora lá paga esse preço. Nós, com essas intervenções, tentamos minimizar esse equívoco e, neste aspecto, a melhoria do transporte sobre trilhos é fundamental. Você ganha também sob o ponto de vista dos viários. Traz também opções de cultura para os jovens da periferia de São Paulo. Opção do ensino técnico e tecnológico com o legado da mão de obra qualificada. A Prefeitura de São Paulo deixará um museu para a Zona Leste. Ganhos que se consolidam ao longo do tempo. A Copa acelerou investimentos que aconteceriam em duas décadas. O Estado de São Paulo não investiu nenhum real na questão do estádio e ainda vai ganhar um evento da magnitude da Copa, com a oportunidade de realizar a abertura do evento. É um evento histórico para qualquer país. E no Brasil não é diferente. O investimento público houve sim, mas no sentido da melhoria da qualidade de vida para quem mora na região.

RD – E a discussão do esporte vai ser mantida no pós-Copa?

Auricchio – A Copa traz uma contribuição importante para o olhar na discussão esportiva, do investimento, formação do atleta entre outros. O Brasil foi premiado no engate de dois grandes eventos – a Copa e, em 2016, a Olimpíada. Eu não tenho dúvida que o Brasil sairá dessa dupla jornada de eventos com uma filosofia e mentalidade esportiva diferentes do dirigente brasileiro.

RD – O que mudará?

Auricchio – Entender que o esporte traz qualidade de vida, integração, sociabilidade, combate a doenças, cultura e educação. É um fator interdisciplinar. Entende-se que o Brasil tem potencial e o que precisa sempre é ter bons gestores dedicados à questão do jovem. Que o esporte possa ser fator de mobilidade social para reduzir a vulnerabilidade. É uma mudança de paradigma. Agora é natural que tenha tudo isso voltado a um investimento. Os governos – e isso vale aos três entes da federação: municípios, Estados e União – tem de pensar em solução alternativa de investimento. Nenhum gestor vai tirar dinheiro da saúde, educação ou mobilidade para investir no esporte, mas é preciso encontrar alternativa. Temos mecanismos importantes como as leis de incentivo. É a grande ferramenta que qualquer um pode e deve ter. Tem de aprimorar o que já existe, pois é muito recente. Todas as leis de incentivo existentes são incipientes. Mas além de aprimorar deve ser difundido, pois têm Estados e municípios que ainda não possuem incentivos.

RD – Isso vale para o esporte de base também?

Auricchio – Vale. O esporte de base, comunitário, formação, você pode investir. A lei de incentivo ainda é pouco utilizada no Brasil, diferente de países desenvolvidos que já têm isso implantado. O Brasil também carece de centros verticalizados para formação dos atletas de ponta.

RD – Como o senhor classifica a crítica daqueles que acham que o Brasil não deveria gastar dinheiro com a Copa?

Auricchio – Tem procedência na critica. Não podemos fechar os olhos para algumas distorções. Não é o caso do Estado de São Paulo. Não é por conta dos equívocos de alguns dirigentes que nós vamos deixar de ter a Copa no Brasil. Porém, eu entendo a crítica. Quando você vê milhões ou até bilhão de investimentos canalizados em estádios que depois não terão aproveitamento e utilização efetivos, nós temos distorções. Neste aspecto, porém, o Estado de São Paulo trouxe o exemplo. Nós temos melhorias para a população como um todo.

RD – Quais os desafios para a gestão pública do esporte?

Auricchio – Conscientizar o gestor. É uma década catalisadora. Enxergar em dois anos o que enxergaríamos em décadas. Isso é bom. O que fica é a questão do financiamento. Da importância dos incentivos fiscais. Aproveitar os talentos que temos nos rincões do País e esta – lei de incentivo – é uma ferramenta importante para isso.

RD – Por que o ABC não foi escolhido para ser subsede?

Auricchio – São 12 seleções já confirmadas e existe a possibilidade de mais duas ficarem aqui em São Paulo. O ABC ainda pode aproveitar a oportunidade da Copa. As cidades que não foram selecionadas podem fazer eventos públicos, com aval da Fifa.

RD – Qual balanço que o senhor faz do trabalho na Secretaria de Esportes?

Auricchio – O esporte é o carro-chefe e é impossível fugir do assunto Copa do Mundo. É o que mobiliza o cenário esportivo brasileiro. São Paulo tem essa missão de ser abertura da Copa e o calendário está muito intenso para o esporte no Estado de São Paulo. Óbvio que, a despeito dessa intensidade que terá de aplicar para executar a Copa do Mundo em alto nível, não podemos parar com ações do esporte, que são hoje capilarizadas no Estado, ações da comunidade. Qual o objetivo do esporte? São dois. Um é chegar à comunidade, oferecer ao cidadão o esporte que possa fazê-lo ter qualidade de vida, envelhecimento saudável, o jovem ter atividade. Tudo que sabemos de seu caráter social. E o outro lado é o esporte competitivo, de alto rendimento. O Estado não pode ficar fora do conjunto, com um adendo, que é determinação do governador: o esporte paraolímpico tem de ter toda a prioridade necessária para ser fazer política pública permanente. Temos de trabalhar essas duas frentes. Copa de 2014 e o esporte propriamente dito, o conceito de Esporte como pilar comunitário e de alto rendimento, além do forte viés para o paralímpico.

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