Educadores reprovam privatização do ensino municipal

Foto: Divulgação

O anúncio da adoção do sistema SESI de ensino nas escolas municipais de Diadema, na terça-feira (11), representa uma privatização indireta da educação pública na visão dos especialistas. Nonato Assis de Miranda, gestor da Escola de Educação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), diz que haverá perda da identidade do regime escolar do município, porque o material a ser utilizado é totalmente elaborado pelas instituições privadas, sem a participação dos professores da rede pública.

Para Miranda, é fundamental que os educadores envolvidos na aplicação do conteúdo participem da elaboração do material didático, pois implica no perfil do aluno e na melhor abordagem de determinados assuntos. O professor considera a prática dos sistemas de ensino como forma de reduzir custos da administração pública, sem levar em conta o longo período de adaptação ao novo método. “Quando se compra pacotes prontos de ensino, partimos do pressuposto que não houve capacidade própria de elaboração do conteúdo educacional”, aponta o especialista pedagógico.

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Para Roger Quadros, professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista, em São Bernardo, a adoção de sistemas de ensino privados pelos municípios impõe nova lógica do capital e da iniciativa privada no ensino público. “Os objetivos traçados pelas prefeituras em melhorar a qualidade do ensino podem ser alcançados, mas a realidade das comunidades é desconsiderada quando se adota sistemas padronizados”, adverte Quadros.

A discussão foi gerada após a oficialização da parceria entre a Prefeitura de Diadema e o Sesi-SP (Serviço Social da Indústria de São Paulo) para a implementação do novo modelo nas 84 escolas municipais da cidade. O convênio, que vai gerar gasto anual da ordem de R$ 3 milhões, contemplará a capacitação dos 245 gestores e de 2.109 professores da rede.

Por meio de nota, o SESI informa que o Sistema SESI de Ensino colabora com o município para que os objetivos de aprimoramento da qualidade dos serviços públicos de ensino sejam alcançados. No total, o novo modelo vai atingir 32.256 alunos envolvidos nas escolas, sendo 17.151 da educação Infantil e 15.105 do ensino fundamental (1º ao 5º ano).

Oposição

A bancada petista da Câmara de Diadema, liderada pelo vereador Josemundo Dario Queiroz, o Josa, mantém a postura contrária à adoção do novo sistema educacional nas escolas municipais. “O valor investido anualmente com a parceria [com Sesi] poderia ter sido revertido na capacitação municipal, mas agora os profissionais [professores e gestores] serão totalmente excluídos na elaboração do plano educacional e das decisões nas escolas”, aponta o petista.

À época do debate na Câmara Municipal para aprovação da implantação do sistema Sesi, diversos profissionais da educação e o Sindema (Sindicato dos Funcionários Públicos de Diadema) levantaram questões como: “Apenas os custos com estudantes ficarão em torno de 3 milhões de reais. Com que dinheiro investir na implementação desse sistema quando falta até lápis e borracha para as crianças?”

Ribeirão Pires é outra cidade do ABC a adotar sistemas externos de ensino, no caso do Instituto Ayrton Senna, desde 2007. A capacitação dos educadores também faz parte das medidas para implementar os conteúdos nas escolas do município.
 

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