A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) decidiu ajuizar uma ação contra a Fazenda Pública Estadual para tentar garantir assistência a Ana Maria da Silva, uma senhora de 68 anos que sofre de trombose, vasculite e necrose nos membros inferiores.
Conforme revelado pelo RD essa semana, a idosa passou 74 dias sem receber atendimento em Diadema. A cidade deveria fornecer uma equipe de enfermagem para administrar a troca diária de curativos nas pernas de Ana Maria, além de um médico para aferir, semanalmente, pressão e destro – fato que não aconteceu entre 12 de novembro de 2013 e a última segunda-feira (27), quando o assunto tornou-se público.
O caso da idosa foi exposto, inicialmente, em um vídeo gravado e divulgado na internet pelo próprio filho, Marcelo Lopez. Segundo relatou o técnico em acústica, a idosa recebeu recomendações médicas do Hospital São Paulo – onde ficou internada por quase um mês após ter uma reação grave à vacina Influenza, aplicada no equipamento em Diadema – para ser acompanhada, constantemente, pela equipe da UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim ABC, a mais próxima de sua residência, no Jardim Takebe. Foi somente após a repercussão que a equipe da UBS, ligada ao Programa Saúde da Família, decidiu retomar os cuidados com Ana Maria.
Durante o período em que o tratamento foi suspenso, Marcelo cuidou sozinho dos curativos na mãe, que permanece cadeirante, sem movimentos na perna esquerda. A prefeitura afirma que o acompanhamento semanal para aferir pressão e destro deixou de ser necessário porque Ana Maria entrou em quadro estável ainda no ano passado, logo após passar por tratamento intensivo no Hospital São Paulo. Além disso, o governo municipal afirma que a idosa assinou uma declaração na qual abre mão da troca de curativos. O documento, segundo o Paço, é sigiloso e por isso o jornal não teve acesso.
“Isso ocorreu em um dia em que a Ana Maria estava acompanhada de outras duas idosas que se declararam analfabetas. Elas não recusaram a terapêutica aplicada pela UBS, apenas rejeitaram naquele dia, em especial, porque Ana havia colocado, há um dia, um curativo especial que só precisaria ser trocado após sete dias. O enfermeiro redigiu um termo, dolosamente, pedindo para ela abrir mão de todos os cuidados”, apontou a advogada e presidente do Departamento de Direitos Humanos da OAB de Diadema, Flávia Artilheiro.
Flávia explicou que tentará conquistar na Justiça, também, a liberação do prontuário médico de Ana Maria feito pelo Hospital São Paulo, por ser mais completo. O mesmo serve para o prontuário da UBS Jardim, local que a paciente frequenta há uma década por ter problemas de circulação.
Flávia explicou que acionará o Estado, neste caso, porque, na prática, há mais chances de atingir o objetivo de garantir atendimento à idosa. “Já que Diadema foi omissa no atendimento e o governo estadual tem mais recursos, vou tentar essa via. O Estado vai decidir se abraçará a causa na rede pública ou se deve terceirizar os cuidados, com contratação de home care, por exemplo”, sustentou.
Enquanto isso, Marcelo continuará cuidando das escórias da mãe.
Colaborou Lígia Berto