Com caso raro, idosa sofre a falta de médicos em Diadema

Ana Maria da Silva, 68, sofre de trombose, vasculite e necrose nas pernas. Ela deveria ser acompanha diariamente por uma equipe da UBS Jardim ABC, mas passou os últimos 74 dias sem uma visita de enfermeiros ou médicos. Foto: Rodrigo Lima

Desesperado com a falta de atendimento médico em Diadema, Marcelo Lopez, membro do Conselho Popular de Saúde do Jardim ABC e técnico em acústica, decidiu gravar imagens da situação desumana na qual se encontra sua mãe, a pensionista Ana Maria da Silva, de 68 anos, que desde o final de maio de 2013 sofre com uma reação à vacina do idoso, a Influenza, que lhe causou um quadro grave e inédito no Brasil. A idosa, que hoje necessita de acompanhamento diário, passou os últimos 74 dias sem ser assistida por um médico ou enfermeiro do município administrado por Lauro Michels (PV).

O vídeo foi parar na internet e chamou atenção pelas cenas fortes. Marcelo detalhou a situação ao RD. Segundo o diademense, sua mãe, que é diabética, tomou a vacina para idoso na UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim ABC. Três dias depois, começou a ter fortes dores e inchaço nas pernas. Marcelo a levou para o mesmo equipamento de saúde e lá recomendaram que a paciente fosse encaminhada a um hospital de grande porte, com a justificativa de que Diadema registra a saída de mais de 80 médicos da rede pública. Segunda a prefeitura, não há previsão de quando o quadro será resposto.

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Marcelo seguiu a orientação e levou Ana Maria ao Hospital São Paulo, em julho. Ela ficou internada em estado grave por 21 dias. Os médicos a diagnosticaram com trombose, vasculite e necrose, doenças que causam profundas feridas nas pernas da pensionista. “Após 37 exames concluíram que foi uma reação gravíssima. A doutora não colocou nos laudos, mas afirmou que a vacina foi culpada. Isso nunca aconteceu no País e minha mãe foi catalogada no livro da USP (Universidade de São Paulo) com doença rara”, explica Marcelo. 

Entre julho e novembro de 2013, Ana Maria, que desenvolveu várias feridas que não cicatrizam por causa do diabetes, recebeu visitas de enfermeiros da UBS. A pensionista concluiu o tratamento intensivo no Hospital São Paulo em dezembro do ano passado, mas teve orientações de que deveria receber acompanhamento diário de um enfermeiro, para troca de curativos e visita semanal de um médico especializado para cuidar de sua medicação e de sua pressão. Os serviços deveriam ser administrados pela UBS Jardim, que faz parte do Programa de Saúde da Família (PSF). Porém, entre 12 de novembro e esta segunda (27), Ana Maria não foi atendida.

Durante o período, o diademense cuidou sozinho dos curativos da mãe, que permanece cadeirante, sem movimentos na perna esquerda. “Não tenho carro e a cidade tem apenas uma ambulância especializada para cadeirantes, então minha mãe teria de ficar em uma lista de espera de meses até conseguir o transporte que precisa”, aponta Marcelo, que afirma já ter gasto mais de R$ 8 mil entre transporte, remédios e gazes, que a UBS também não disponibiliza.

Outro lado

Em nota ao RD, a prefeitura de Diadema afirma que a UBS Jardim realizou três visitas por mês desde julho do ano passado à Ana Maria, e em nenhum dos documentos apresentados se encontra a confirmação de que o caso da pensionista foi agravado pela vacina Influenza.

Em algumas das visitas realizadas por enfermeiros, o Paço relata que Marcelo foi relutante em deixar que cuidassem das escoriações de Ana Maria, com a desculpa de que já havia trocado os curativos recentemente. A recusa do morador, no entanto, foi documentada apenas no dia 27 de setembro de 2013. Também segundo o governo, a equipe de enfermagem da UBS fez uma visita hoje (27) à Ana Maria, para aferir a pressão e a diabetes, mas não trocou os curativos porque Marcelo “recusou ajuda”.

Marcelo, por sua vez, afirma que declinou a troca de curativos apenas uma vez, em setembro, porque desconfiou do procedimento que o enfermeiro faria. “Ele pegou remédios que minha mãe nunca havia tomado e não aceitou quando eu disse que eram os errados. Aí eu preferi fazer o curativo sozinho. Hoje, eles (enfermeiros da UBS) só vieram porque viram o vídeo e nem olharam para os machucados nas pernas da minha mãe, só mediram a pressão e a diabetes”, afirma.

Até o fechamento da matéria, o governo Lauro Michels não explicou o motivo pelo qual Ana Maria ficou mais de dois meses sem receber atendimento da UBS Jardim.

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