1% da população acima de 18 usa bicicleta para trabalhar

Segundo o último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Grande ABC soma mais de 2,5 milhões de habitantes. Desse total, 2,3 milhões fazem parte do grupo de trabalhadores com mais de 18 anos. O Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Inpes/USCS) decidiu investigar qual a modalidade de transporte utilizada por esse segmento para chegar ao local de trabalho. A pesquisa revela que apenas 1% desse nicho (aproximadamente 23 mil pessoas) prefere a bicicleta.

A cidade de Ribeirão Pires desponta no ranking das sete cidades como a que mais utiliza esse modal: 2,6% dos trabalhadores com mais de 18 utilizam a bicicleta na cidade, seguida da populosa São Bernardo (1,9%), Rio Grande da Serra (1,8%), Diadema (1,3%), Mauá (1,2%), São Caetano (0,6%) e Santo André (0,4%).

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Em 2008, a média no ABC era um pouco maior, 1,2%. Na avaliação do gestor do Inpes, Leandro Prearo, a tendência, ao contrário do esperado, é que o número de adeptos à bicicleta continue decrescendo. Para justificar a projeção, Prearo argumenta que o uso desse modal está atrelado a questões econômicas. “A maioria utiliza a bicicleta por reflexo de outros fatores, como o alto custo da tarifa de ônibus, a falta de um veículo particular ou até mesmo a proximidade com o local de trabalho. A escolha por preocupação com a sustentabilidade ou com a saúde ainda não ganhou espaço no ABC”, pontua.

Na escala de modais utilizados para chegar ao trabalho, até caminhar tem mais adesões do que a bicicleta. Segundo o levantamento do Inpes realizado em 2012, 20,7% dos trabalhadores do ABC com mais de 18 anos preferem ir a pé ao trabalho. Outros 33,9% utilizam ônibus; 32,4% vão de carro; 10,3%, de trem ou Metrô; 9,7% trabalham em casa e 5,2% optam pela motocicleta.

Para Prearo, o fato de o veículo particular ainda ser um dos principais objetos de desejo do brasileiro também influencia a pouca utilização da bicicleta. “Eu não tenho uma visão romântica sobre bicicletas. Para mim, a questão é estritamente econômica e cultural. Quem tem um carro não vai abrir mão do conforto para andar de bicicleta, principalmente com a falta de segurança e ciclovias. E quem não tem carro, quer ter”, comenta.

Os apontamentos de Prearo convergem com os dados do Inpes que confrontam o avanço populacional do ABC com o crescimento da frota veicular. A região vive a expectativa de ganhar mais 200 mil habitantes nas próximas duas décadas, enquanto 145 mil automóveis podem chegar às ruas a cada ano. Em uma década, portanto, teríamos mais 1,450 milhão de carros, complementando a frota atual de mais de 1,062 milhão de veículos.

Uso compartilhado

Andrea Brisida, coordenadora do GT (Grupo de Trabalho) de Mobilidade do Consórcio Intermunicipal Grande ABC – órgão que reúne as sete prefeituras da região –, destaca que a utilização da bicicleta está na pauta dos governos municipais desde o começo do ano, dividida em três frentes: a construção de mais ciclovias, a implantação de ciclofaixas de lazer e de um programa de locação de bicicletas. Porém, por questões técnicas, os projetos seguem emperrados.

Enquanto os frutos das decisões regionais do Consórcio não são colhidos, iniciativas individuais poderiam sinalizar mudanças efetivas, mas ainda falta uma boa dose de ousadia para que estas também saiam do papel. Para exemplificar, Brisida destaca que São Bernardo incluiu em seu projeto de construção de corredores de ônibus a implantação de faixas para bicicletas. “Essa mudança estrutural vai acabar forçando a mudança de cultura. Conforme o uso da bicicleta for aumentando, mais mudanças na estrutura [viária] serão feitas.”  

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