Cientista político prevê siraquização na eleição de Santo André

O cientista político Nilton Tristão é diretor do Instituto Opinião

Em entrevista ao RDtv, o cientista político Nilton Tristão e diretor do Instituto Opinião revela que, baseado nos números aferidos na pesquisa divulgada nesta quinta-feira (31/5), a eleição caminha para ter um segundo turno em Santo André.

Tristão também prevê uma nova “siraquização” eleitoral caso o atual prefeito Aidan Ravin (PTB) não consiga se reeleger no primeiro turno. Isso porque hoje existe o mesmo sentimento de mudança que ocorreu em 2008, quando o prefeito Aidan venceu o favorito Vanderlei Siraque (PT) no segundo turno.

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O sociólogo fez projeções dos cenários com as presenças do ex-presidente Lula (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na eleição local. Mas alertou que os candidatos ungidos pelos padrinhos famosos precisam construir uma imagem de bom administrador e que terão competência para o construir o futuro da cidade.

Leia os principais trechos da entrevista:

Repórter Diário – Nesta quinta-feira (31/05), foi divulgada pesquisa sobre o cenário eleitoral em Santo André, contratada pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos do ABC. Foram ouvidas 500 pessoas entre 25 e 28 de maio. Quais os candidatos avaliados e qual foi o cenário?
Nilson Tristão –
Essa pesquisa foi planejada para acontecer antes, mas em virtude da discussão da candidatura do PSDB, o contratante resolveu esperar até que a legenda determinasse qual seria sua posição dentro do processo sucessório. Após esse desfecho, o PSDB ter decidido que caminhará pela reeleição do prefeito Aidan Ravin (PTB), a gente procurou reformular o quadro. Os nomes que nós trabalhamos foram o do Aidan Ravin (PTB), Carlos Grana (PT), Raimundo Salles (PDT), Nilson Bonome (PMDB), Alexandre Flaquer (PRTB) e Marcelo Reina (PSOL).

RD – Quais foram os números aferidos na pesquisa estimulada?
Tristão –
Na estimulada, Aidan aparece em primeiro lugar, com 35% das preferências. Carlos Grana aparece em segundo lugar, com 20%, o Salles em terceiro com 18%. Nilson Bonome tem 2%, Alexandre e Marcelo com 1%. E nenhum e não sabe somam 24% e isso reflete os brancos e abstenções na eleição.

RD – Com estes números, podemos dizer que teremos segundo turno? E qual é a sua avaliação sobre oposição e situação em Santo André?
Tristão –
Se a eleição fosse hoje Santo André teria segundo turno. Não pensando em intenção de voto direcionada a um dos postulantes. Se a gente pensar em voto conceitual, aquela pessoa que fala se vai votar na situação ou oposição, o campo para a oposição está maior. Dentro de um segundo turno, sem levar em consideração nomes, a oposição teria maioria.

RD – Qual é a diferença de cenário em comparação a 2008?
Tristão –
A diferença básica é que naquela eleição o ex-prefeito João Avamileno (PT) não era candidato, mas Vanderlei Siraque, que representava a situação. O candidato era apoiado pelo prefeito e hoje não, já que o prefeito é o candidato da continuidade. Tenho a sensação que tal como naquele momento, o espírito de mudança é bastante acentuado. A avaliação do governo Aidan não é ruim, mas o sentimento está mais no caminho da mudança do que na continuidade. O cenário é de hoje, e isso não significa que será no dia da eleição. Na eleição passada, o sentimento de mudança estava adormecido porque havia uma convicção de que o PT faria o seu candidato já no primeiro turno. Esta convicção era muito mais forte em 2008 do que hoje.

RD – Se a administração é boa, a tendência é que o prefeito seja reeleito. Isso não está sendo configurado?
Tristão –
Eu li há algum tempo matéria que dizia que 55% dos prefeitos que disputaram a reeleição em 2008 perderam. Lógico que quem sai na condição de prefeito e tem a estrutura da máquina e recursos humanos tem muito mais vantagens em relação aos demais. Os números da pesquisa indicam que o prefeito estará no segundo turno. Hoje temos 35% que dizem votar no Aidan e 42% que afirmam que votam em outros candidatos de oposição. O que mais o favorece é tentar ampliar as intenções de voto para vencer no primeiro turno. Mas acho que as chances do Aidan ganhar no segundo turno começam a correr risco.

RD – A eleição ainda não está configurada como um embate entre PT e PTB?
Tristão –
Não existe uma polarização aí. O que me parece bastante interessante nesta pesquisa é que 42% dizem que não querem votar nem no Aidan e nem do PT. Pode ser que este número mude no transcorrer do processo. E hoje quem capitaliza este sentimento é o Salles.

RD – Se a pesquisa indica que o Aidan está no segundo turno, como você avalia o nome do Salles. Entre Aidan e Grana, quem depende mais do Salles neste processo eleitoral?
Tristão –
Hoje o Grana precisa do Salles para levar a eleição para o segundo turno. E o Aidan necessita tirar o Salles do processo eleitoral para ganhar em primeiro turno. Portanto, na minha avaliação, o Salles se tornou a peça que determinará se a eleição vai ser definida em primeiro ou segundo turno.

RD – Mas temos outros pré-candidatos. Exemplo é o Nilson Bonome (PMDB), ex-secretário de Aidan. Ele não pode ser determinante para eleição ir para um segundo turno?
Tristão –
Neste momento estes candidatos não têm densidade eleitoral significativa. Mas isso não quer dizer que não terão. O Bonome, por exemplo, já tem potencial de chegar a 5% e pode avançar. Como pesquisa é a fotografia do momento, apenas o Salles tem este diferencial de levar a eleição para o segundo turno. Agora, no cenário sem Salles, o Aidan tem 41% e os outros candidatos contam com 33%. Por isso que acho que o melhor cenário para o Aidan ganhar a eleição é definir a disputa no primeiro turno. E ísso é fundamental para o pré-candidato.

RD – Então poderia se repetir o mesmo cenário de 2008, quando o candidato petista (Vanderlei Siraque) era o favorito e acabou perdendo a eleição?
Tristão –
Acho que pode se repetir o cenário, sem menosprezar a densidade eleitoral do atual prefeito. Pode ocorrer uma “siraquização” nesta eleição. Na última eleição todos diziam que o Siraque iria ganhar em primeiro turno e acabou perdendo no segundo. Acho que o Aidan deveria prestar atenção no exemplo do Siraque. Santo André já mostrou que é diferente das outras cidades. Ela costuma pregar susto nos favoritos. A exceção fica por conta dos ex-prefeitos Celso Daniel e Newton Brandão.

RD – Na sua oponião, os escândalos e denúncias, como o Mensalão e o Caso Semasa, podem mudar a intenção de voto do eleitor?
Tristão –
Tenho a impressão que estes fatos tendem a criar dificuldades para os dois partidos (PT e PTB), sejam as denúncias local ou nacional. Mas acho que o grande peso para mudar a intenção de voto será na discussão regional. Ou seja, o eleitor quer saber quem está mais preparado para encaminhar as verdadeiras demandas da cidade. E quem pode apontar soluções para um futuro melhor. Acho que isto terá mais peso que as denúncias. As denúncias têm peso e repercutem na rejeição dos candidatos, mas não serão determinantes.

RD – O Aidan venceu a eleição com o slogan “virando a página”. E o PT tem um histórico de administrações. O debate não seria em saber quem mais realizou na cidade?
Tristão –
Exemplo de candidato vencedor é o ex-prefeito Celso Daniel, que se notabilizou por pensar o futuro da cidade. Ele não pensava apenas no dia a dia, e apontava para onde as pessoas deveriam ir. Acho que a principal discussão é que tipo de Santo André vai ser construída no futuro, independente de quem fez isso ou aquilo. Lógico que currículo é para ser mostrado.

RD – Também foi divulgada pesquisa sobre os governos Geraldo Alckmin e Dilma Rousseff. Quais são os números?
Tristão –
Os dois governantes são bem avaliados. Geraldo possui 58% e Dilma está com 79% de aprovação. A avaliação da presidente Dilma na região acompanha a média nacional. Já o Geraldo tem uma avaliação inferior em relação ao Interior de São Paulo, em torno de 74%.

RD – Você acha que o governardor terá influência na candidatura de Aidan Ravin?
Tristão –
Acho que agrega, mas não é determinante. Ele tem 58% de aprovação, 15% de ótimo e 31% de bom. Isso não pode ser menosprezado. Mas acredito que o Aidan não vai vencer por causa do apoio do governador Geraldo Alckmin.

RD – E a presença do ex-presidente Lula na campanha do Carlos Grana é determinante para o sucesso do PT na eleição?
Tristão –
Acho que o grande trunfo do PT é o fator da presença do ex-presidente Lula na eleição em Santo André. Ele tem uma situação emblemática que é morar aqui do lado (São Bernardo) e ter o mérito da indicação da presidente Dilma, que adquiriu excelente avaliação popular. Mas acho que o Carlos Grana precisa se viabilizar como candidato confiável para ser bom prefeito. Exemplo foi na última eleição em São Bernardo. O Lula ajudou, mas o prefeito Luiz Marinho construiu uma imagem de que seria bom administrador e iria fazer bom governo. Tudo mundo quer o apoio do Lula, até o ex-governador José Serra se pudesse gostaria de tê-lo. O eleitor gosta e prestigia o apoio do Lula, mas não é um cheque em branco.

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